Fragmentos de mim: 2012

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O espelho interno


O tempo não apenas passa, voa... Incrivelmente calmo, ele abre e fecha feridas, destrói verdades e cria dúvidas, renova esperanças enquanto envelhece corpos, pessoas...
 E eis que as crianças tornaram-se adultos. Uns bons, belos, outros nem tanto. Muitos casaram-se, descasaram-se, tornaram-se pais e mães, grandes profissionais ou, simplesmente, sumiram-se, apagaram-se na poeria do tempo e da memória, que tudo guarda, mas nem tudo recorda.
Apesar de bobo e óbvio,e interessante perceber que os adultos de minha infância são os idosos de hoje e que, no amanhã, tão breve a chegar, os da minha geração e eu, seremos os idosos...
Interessante recordar o nome de uma criança ouvido na infância e vê-la transformada num homem ou mulher com rugas aparentes, olhares e andares cansados. Assim como eu, que pouco a pouco, sou roubada pela fisionomia de uma mulher madura, meus pais são tragados pela imagem de meus avós, enquanto novas crianças surgem no mundo.
Enquanto alguns medos e fantasias, problemas e dores simplesmente não passam, apenas tornam-se mais pesados pela fraqueza física do cansaço, a maturidade e a paciência nascem, tal como crianças doces e mudas e, nem por isso, menos sábias...
Alguns de meus grandes heróis, simplesmente morreram ou descobri que não mais me fascinam. Outros perderam-se na imensidão dos dias curtos que passam incessantemente.
O difícil disso talvez seja perceber que embora tudo tenha mudado, se transformado, surgido ou ido embora, eu simplesmente, não saí do lugar, e muito menos, cheguei aonde gostaria de ter chegado, embora tenha viajado bastante, até quando não me desloquei a lugar algum.
Agora sim está claro, a vida é movimento, por mais que eu me negue a me mexer.

domingo, 2 de dezembro de 2012


Solidão parece palavra que remete à eternidade,
profundidade,
imensidão...
Forte como a morte,
Absoluta como a vida.

São tantos andando de um lado pro outro,
ao nosso, lado, e, ao mesmo tempo tão distantes de nós...
Chega a ser difícil se sentir à vontade no mundo.
É como morar a vida inteira na mesma casa e não se sentir parte dela,
É como olhar para a família e ter a sensação de estar na casa errada,
É como perder-se de casa, de uma casa cuja recordação é opaca,
É como estar vivo e não sentir o coração bater.

Carrego em mim as ausências de um mundo inteiro,
As esperanças de uma existência eterna,
E as desilusões de uma vida que passa,
fugazmente, por mim.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A máquina do tempo

As coisas têm o poder de nos fazer viajar no tempo. Uma fotografia, um perfume, uma peça de roupa, ou mesmo pequenas coisas como um objeto jogado, esquecido em algum cômodo da casa podem, como num passe de mágica, nos conduzir a um momento marcante de nossa existência.
O cheiro do outro que permanece na pele é como perfume natural que conduz o espírito à presença que permanece, mesmo depois que a companhia é um passado recente, é a certeza de que não estivemos só e de que há alguém no mundo que, de uma maneira intimamente única, esteve conosco.
Certas coisas nos relembram saudades, sentimentos profundos que carregávamos enquanto aquele perfume era usado ou aquela roupa era escolhida para sair de casa, numa tentativa louca de livrar-se da solidão.
O vinho que sobrou na garrafa é poderoso o suficiente para nos fazer viajar na máquina do tempo da memória até o momento em que ela foi aberta, até a deliciosa conversa que teve seu sabor misturado ao da bebida, bem como aos momentos sagrados a dois que coroaram a noite...
Claro que o poder dessas coisas depende muito das emoções que elas acompanharam ou previram num dado momento do passado. A lingerie delicadamente jogada sobre o corpo na espera da chegada do amante, sempre que vista ou vestida lembra, ou mesmo, desperta a sensação de espera um dia vivida; A música que embalou aquela noite de amor jamais será a mesma, pois sempre que ouvida despertará as emoções degustadas naqueles momentos inesquecíveis...
A máquina do tempo da alma está a todo instante e involuntariamente, disposta a nos conduzir ao que de mais forte e marcante um dia fez parte de nós. Faz do passado, presente. Faz de uma mera lembrança, um sentimento.

sábado, 27 de outubro de 2012

RECOMEÇO

Os seres que unem,
Os seres que partem,
Os serem que me partem ao partir:
A vida é movimento, pensamento,
Mero fragmento...
Desalento em pleno relento,
Viver é mais que isolamento,
Viver é agir...
Agir é arte,
Artesanato de fazer valer a pena cada vez que se enche o pulmão de ar...
Não, não pode ser à toa, a vida não é apenas boa,
A vida é movimento  lento, é alento,
Talento de ser eterno caçador de momentos.
Os seres se unem,
Os seres desunem,
Os seres que me partem quando partem,
Ficam em mim:
A vida é guardar, mesmo quando não se quer...
Guardar o bem para recordar,
Guardar o mal para aprender... a melhorar.
Abandonar pesos, dizer adeus aos que partem,
A vida é partir:
Partir corações, compartilhar emoções,
Juntar os pedaços de si,

A vida é RECOMEÇAR.

sábado, 20 de outubro de 2012

Um salve...

Um salve à essa aventura linda e cheia de mistérios chamada VIDA!
Um salve a cada instante vivido, cada ferida aberta,
Se há dor é porque há vida, é porque estou pronto a sair em busca da cura...
Um salve a cada ser que faz de si templo de suas próprias vivências
E um salve a quem não sabe fazê-lo:
Esse são a prova de que vencer não é para qualquer um!

Um salve ao grito de liberdade que me sufoca a garganta...
Ele é a prova de que preciso ser livre e de que a vida jamais me prendeu...
Um salve à poesia, que me liberta de todas as minhas ânsias,
É a linguagem com que falo com meus fantasmas.
Afinal, diálogos são indispensáveis!

Um salve a cada dia que nasce, com ele a vida se renova,
E com ela, eu me renovo e nasço novamente...
Um salve a cada dia que termina, com ele o que se tornou velho em mim se vai,
E um salve mais que especial, ao tempo que passa,
Ele que mostra as verdades, consolida vivências,
Sara as feridas que a vida abriu,
Ensina em silêncio e sem ceder aos apelos cegos das almas em devaneios...

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Os objetos da bagagem...

Descobri que estou andando em uma caminhada sem volta,
Rumo a um destino que não sei quando alcançarei.
E, nesta caminhada, a pé, sou apenas um andarilho
Com a pele queimada pelo sol, os pés cansados de pisar o chão...
Percebi que minha bagagem andava superlotada,
Com coisas que pouco usava, quando não, inúteis,
Mas que eu amava com toda a força do meu coração.

Decidi, então, não guardar nada que me pesasse na caminhada da vida...
Percebi que há coisas, seres que pesam e outros que tornam a caminha mais leve,
Tristemente, vi que as últimas são minoria,
Os primeiros, tão belos bibelôs de gesso, pesavam e não me serviam...

Foi com uma dor infinita que percebi suas insignificâncias,
Procurei um lugar no caminho e, lentamente, olhando bem,
Para nunca esquecer seus detalhes, eu os fui abandonando,
Depois, procurei não olhar para trás a fim de não perder o medo de abandoná-las...
Agora sinto a bagagem bem mais leve...

Inevitavelmente, volta e meia coloco a mão na bolsa,
Nos lugares que meus tão amados bibelôs ocupavam,
Como antes fazia para sentir a presença dos que se foram,
Encontro apenas um espaço frio e vazio e,
Involuntariamente, lágrimas de saudade de suas presenças banham-me a alma e o rosto cansado.

Às vezes, sinto vontade de voltar e tentar recuperá-los,
Pedir perdão pelo abandono, mas percebo que a vida é um caminho sem volta.
E se não o fosse, voltar andando, colocá-los de volta na mochila e suportar seus pesos
Tornariam minha caminhada impossível...

Faz pouco tempo que percebi que há muito estou nesta estrada,
Percebi com saudades e dor na alma pela ausência,
Que os bibelôs não me serviam, apenas pesavam e tornavam a caminhada mais penosa...
Notei que, imperceptivelmente, impulsionada pela dor do cansaço,
Optei pela dor da ausência e por uma caminhada talvez mais dolorosa e solitária,
Mas, certamente, menos pesada.

Porque ainda não conheci caminhos sem dores...

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Com você...

Com você sou carente, inocente, indecente
Com você sou, simplesmente, gente.
E gente no sentido mais completo da palavra.

O amor me permite receber-te aqui,
Guardar você em mim como o faz um porta-joias,
Como um cofre que, secretamente, esconde todos os segredos,
Todos as riquezas, toda uma vida.

O amor me permite ser pura para você,
Puramente eu, com todas as minhas mediocridades,
Falhas e piores falas...
Com toda a minha fraqueza e franqueza...

Parece que diante de você sou só defeitos,
Sou falha, frágil e incapaz,
Sou "a mulher das tarefas inacabadas".
Talvez porque, estando com você, sou apenas verdades...

Até mesmo as minhas priores verdades.
Por isso, com você sou mais...

domingo, 30 de setembro de 2012

Os supra-sumos

O dia mais lindo é o vivido com vontade,
A alma mais linda é a que esquece a maldade,
O momento de ser feliz é o agora,
A pessoa mais linda do mundo é a que se ama...

Os melhores momentos, os vividos com exclusividade
A maior beleza é a que dispensa maquiagem,
A verdadeira paz é a que está no lar,
O melhor abraço é o do corpo cuja alma se ama...

A perfeição é a consciência tranquila,
O melhor tempero é a fome,
O maior defeito é não se aceitar,
A melhor casa é a nossa.

domingo, 23 de setembro de 2012

Ai, palavras...

Ai, palavras!
Tão cegas,
Tão mudas,
Tão nuas,
Tão minhas...

Minhas amigas e minhas maiores traiçoeiras,
Palavras que me deixam no vazio do silêncio quando mais necessito,
Palavras que me permitem falar asneiras quando deveria calar-me...
Palavras que me abrem caminhos,
Com que me fecham as portas...
Ai, palavras!

Tão vazias, tão frias,
Tão morte, tão vida...
Refúgios de minhas dores,
Canção com que canto meus amores...
Construtoras e destruidoras de mim,
Marco de início e do fim...
Ai, palavras!



domingo, 9 de setembro de 2012

Belezas e injustiças...

Parece injusto, mas assim como o canto do pássaro preso na gaiola, por ser triste, parece mais belo, do mesmo modo soam algumas canções. Também as poesias mais lindas parecem ter um certo ar de tristeza, como se a dor tivesse o poder de se transmudar e transfigurar-se em beleza.
O difícil é que a tristeza cansa a alma... se não cansasse, não me importaria ser beleza a vida inteira. E a dor machuca tanto que chego a sentir pena de mim. Pobre de mim que sinto dor de saudade, que vejo em cada ser algo único e tremo com a possibilidade de não mais vê-los. Pobre de mim que, esquecida pelos outros, preocupa-se com eles e sente, como ninguém, a dor do abandono. Pobre de mim, que por amar demais, fala idiotices, joga o orgulho fora, perdoa e ainda se sente culpada...
Pobre de mim que me sei um ser incomodador, que entende isso e fica triste consigo mesma, pois os outros têm razão em não estar dispostos a me ver ou falar comigo quando os procuro... Pobre de mim que, de tão habituada às críticas, não sabe receber elogios. Que não saberia o que fazer, se um dia fosse amada verdadeiramente...
Sou um ser incomodador porque incomoda a dor da saudade e do abandono... arde a alma de tal forma, que somente uma palavra vinda de alguém querido é capaz de aliviar a dor e o cansaço de senti-la.
Ah, se as pessoas soubessem como é sagrado um ser humano... jamais contribuiriam que alguém sofresse em vão.
Será que ser feliz é isso? Lidar com as frustrações e amar as pessoas, mesmo as tendo distantes ou por vezes indiferentes?
Ah, pobre de mim, pobre de mim que não sei amar sem querer para mim o Ser Amado... Porque não tê-lo é triste, mas conserva a beleza de seu regressar. Ao menos enquanto existir o regresso...

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Sobre as saudades e outras coisas...

E na busca intensa de mim, descubro que ainda não aprendi nada, pois nos momentos mais árduos, as teorias simplesmente não funcionam e vejo desabarem todas as imaginárias cenas de meu sucesso. Seria eu um exemplo clássico de fraqueza ou loucura?
Confesso que de todos os medos, o que mais me amedronta é o de perder a razão. E ele aumenta cada vez que o percebo tão perto e cada instante que te percebo tão distante... desejo que o tempo corra e me mostre como será o final dessa história. Simultaneamente, desejo que ele volte, não muito, mas que retroceda ao teu último momento ao meu lado para que, novamente eu sinta a sensação de estar viva. É difícil viver da morte lenta que é estar distante de quem eu mais queria perto.
É estranho perceber que vivo sem sentir o calor de vida, pois ele se vai cada vez que a despedida se aproxima e eu te abraço, te abraço como se nunca mais o fosse fazer na vida. Eu te beijo, te beijo como se buscasse a última chance de sobrevivência em seus lábios e no calor de teu abraço...
É torturante a sensação de abandono, a saudade que só aumenta e a certeza de que ela não acabará, pois como um rio, a vida corre sempre e sem volta...
Onde estão todas as teorias que aprendi e de que tanto falo, quando mais se me fazem necessárias? Onde estão as eficácias dos conselhos que, em silêncio, ou em murmúrios, presenteio-me todos os dias e todas as horas em que a dor parece que vai me sufocar? Onde estão as respostas e a cura desta dor tão grande  que torna os dias tão lentos e pesados de viver?
Não sei, não saberei jamais... e se saber significar jogar fora o meu sentir, prefiro morrer de dor enquanto vivo, somente para correr o risco de encontrar você e me sentir viva de novo...

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Coração de mulher...

Tenho um coração de mulher, com os medos que são de uma mulher...
Não me peça, por favor, para ser diferente.
O homem tem instinto predador,
Ama como um homem ama...
Mas seja como for, não me imagine diferente,
É apenas uma mulher o que sou...

Meu coração vive a poesia extrema de tua espera,
Vivencia diária e docemente a nostalgia de momentos contigo,
Te revive ao sentir teu cheiro,
Arrepia-se ao lembrar teu toque,
Morre ao não te ter...

Possuo um mero coração de mulher
Que acalma, ao passo que envelhece,
É forte à medida que se fragiliza,
Sou mulher apenas...

Um coração feito pétala,
Transparente feito cristal,
Sou agridoce, sou mel e fel,
Não espere muito e espere tudo de mim,
Pois sou apenas uma mulher.


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Ah, como quero...

Ah, como quero sentir seu retorno ao aconchego de meus braços
Como quem retorna ao lar
Certo de estar a salvo de todo o frio e perigo do mundo...

Ah, como quero que a saudade sempre seja doce
Como a marca de um sabor que é somente nosso,
Como as cores de um arco-íris que se faz apenas por nós...

Ah, como eu quero que o teu calor me abrace,
Como a roupa natural que me veste a alma,
Como uma magia leve que me devolve a calma...

Ah, como quero ter sempre o teu abraço
Como a chama que me acende,
Como a casa que me acolhe...

Ah, como eu quero você...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Que sejam tolas as coisas, mas que sejam boas...


Decidi só falar de coisas boas,
Mesmo que sejam tolas, mas que sejam boas...
Decidi que dos outros só quero o melhor,
Os que me oferecem ofensas, agradeço com gentileza.

Não há dor que dure para sempre,
Nem amor (se verdadeiro) que não ensine,
Se a vida por si só já dói tanto,
Para que alimentá-la com coisas que machucam?

A vida não é uma competição de quem é mais feliz,
Mas sim uma afirmação: se estou bem ou não como estou.
Que tirem vantagem de minhas tolices,
Se estou bem, não sentirei a dor de ver felizes os demais...

Que me importa se estão felizes os que me querem sofrendo?
Meu sofrimento, quando há, é meu,
Minha felicidade, quando há, é minha
E eles nada tem a ver com isso...

Sou de mim
E, no final de tudo,
Restarei apenas eu a mim...

sábado, 11 de agosto de 2012

Os porões de mim

         É nos lugares mais obscuros de mim onde guardo as verdades que procuro esconder de meus próprios olhos. As verdades que tento, inutilmente, amordaçar, esconder e fingir que não existem, pois elas me machucam, esfregam-me na face que não sou tudo aquilo que gostaria, embora seja, em muitos aspectos, muito mais do que um dia pensei que fosse.
        É nos esconderijos do coração onde rio das críticas oriundas de bocas que me ignoram o ser. É também lá onde choro minhas frustrações, tão bobas aos olhos alheios, mas tão sérias para mim...
        É nos porões de mim onde me guardo, muitas vezes para me proteger do mundo. Tantas vezes para me privar das coisas que me atingem, mas que eu não quero admitir porque não deveria permiti-las ocorrer. É nos desvões de mim que admito muitas vezes ser uma mentira que sorri alto, pois somente assim consigo abafar o choro de minhas verdades.
        E em meu esconderijos eu existo de verdade, onde o meu reflexo pode ser sem maquiagem e nada mais tem valor. Nos lugares obscuros do meu ser eu sou eu mesma, sem medo de ferir ninguém nem de dizer "eu te amo". Na escuridão do meu ser eu SOU alguém e meus sonhos são MEUS. No mais, nada me pertence, embora "tudo" seja meu.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Tudo que tenho

Sou tudo aquilo que sinto,
e o que sinto, é tudo que tenho.
Alguém feita de sensações,
Pura abstração, pura emoção...

Vou de milionária à mendiga sem sair do lugar,
Sem mudar de roupa,
Sem, sequer, me mexer...
Pois minha riqueza não se acaba,
E minha sujeira, a água não lava.

O que mexe comigo vem de mim,
Sou eu quem sente, quem provoca.
Se decido amar, sou amor,
Se decido odiar, sou terror.

E agora, sou abandono,
Um barco à deriva,
Sem remo ou direção, vou aonde o vento me conduzir
Ao encontro de você, ou ao encontro de mim...



terça-feira, 31 de julho de 2012

Sobre beijos e abraços...

O frio é o abraço da solidão,
A lembrança, o beijo da saudade...
O frio é a mais concreta imagem da ausência
E o encontro mais próximo de mim, comigo mesma.

É o frio que, em silêncio, me diz que estou só,
Que devo me proteger e me preservar,
Ele me abraça o corpo e me pede para cuidar da alma
Para que não esfrie também...

A lembrança é a cor do que não há mais
E a certeza de que o passado faz sentido
Tem razão e é a razão de não ser mais...
Dela brota um sorriso ao infinito
Ou uma lágrima lançada ao nada.

A lembrança aquece quando a solidão faz tremer com o frio da ausência.


segunda-feira, 9 de julho de 2012

Estranha sensação de viver

Ela era estranha. Não, não era, mas sentia-se assim. Sempre carregou em si a sensação de que algo não estava certo, de que alguma coisa em si não era normal. Tanto acreditava nisso que jamais sentiu-se como as outras pessoas, ou ao menos, como imaginava que eram as demais vidas.
Estranho como os outros pareciam iguais, normais. Menos ela. Ela não poderia jamais ser igual às outras pessoas, sentir os mesmos sentimentos, pois suas dores eram sempre mais intensas, suas feridas mais profundas, seu amor o mais sincero e sua vida, única e não apenas um número nas estatísticas de mulheres que povoavam aquele país de fama tropical. Sua alma não era tropical, era europeia, de sentimentos clássicos e atitudes de mulher de seu tempo.
Por vezes, sentiu-se entediada. Achava aquilo perda total de tempo de uma vida que voa e, ao mesmo tempo, parece que não acaba nunca. Em seus mudos brigares interiores, questionava-se: "às vezes não sei se as coisas estão de fato sem graça ou sou eu quem não consegue encontrá-la em lugar algum... infinitas horas perdeu com medo de que a vida passasse sem que conseguisse vivê-las adequadamente.
Provavelmente, jamais viveu verdadeiramente. Estava preocupada demais pensando em como fazê-lo. Entretanto, se algo houve de intenso em si esse foi seu amor e seu medo de perder aquele único a quem amou por inteiro.
Amou-o, amou-o com ardor e paixão de mulher, com a grandiosidade de uma mãe e com a pureza de uma criança... e o fez com tanta perfeição e intensidade que momentos houve em que não soube mais como sentir esse amor, como concretizá-lo. Morreu, morreu muitas vezes de amor e saudade. De angústia sofreu cada dia, na ansiedade de vivê-lo da forma correta e na espera de como terminaria mais uma jornada que, embora parecesse rotineira, ela sabia que jamais se repetira. Veio o dia de tudo em sua vida, inclusive o da partida. Jamais esqueceu o dia em que aquele amor se foi para sempre. Parte de seus dias se foram juntos e eles jamais nasceram com o brilho de antes. Outros amores não existiram em sua vida, pois decidiu guardar-se para si mesma, bem como para aquele amor que brotava de suas lembranças, que renascia no silêncio de seus pensamentos e de uma lágrima de saudade.
Dia algum se repete, é sempre tudo novo, embora com cara de antigo. Ela sabia disso e repetia isso para si mesma a todo instante, especialmente naquele em que algo lhe parecia monótono, vazio. Foi mulher jovem, adulta, anciã, mas sempre foi criança. Conservava em si todos os medos de outrora e, embora se portasse forte, era uma menina de face enrugada com medo do mundo e de tudo que ele podia oferecer. Quanto mais conhecia a vida, menos a entendia, mais entregava-se a ela. Quanto mais tinha medo da morte, mais morria em seu medo e sabia disso. Era a mulher das lembranças fortes cujo tempo não apagava nem fazia, sequer, esmorecer. Foi a anciã de 30 e a criança de 70. Morreu em vida, diariamente, e o fez de alma em paz, na esperança de nascer no dia seguinte. 
Renovava-se e renascia a cada alvorecer, embora a cada dia seu corpo passasse a demonstrar, constante e lentamente, as marcas que denunciavam que o tempo estava passando e envelhecendo sua carapuça carnal. E os dias seguintes vieram. 
Vieram muitos e muitos novos dias... até que chegou o último. O cansaço físico clamava por um alvorecer que dispensasse as rotinas - diariamente renovadas -  de estar viva. A vida clamava por ir-se embora ou por  transformar-se. O que viria depois, por ser mistério, causava o medo conhecido da infância e aguçava a tão companheira ansiedade pelo final de cada dia, pois desejava sofregamente saber o que ele reservava para ser confidenciado aos botões, no silêncio doce de seus devaneios. 
E veio a morte: doce e fria, tão forte e sutil, tão experimentada a cada desilusão que a mulher viu-se surpreendida. Não encontrou o desconhecido que tanto temia, mas o conhecido vivenciado a cada crepúsculo. Porque a vida, bem como o dia, possui seu crepúsculo que dura até encontrar a noite e, finalmente, o novo dia. E essa aurora será certamente no lugar onde despertou a mulher, um lugar onde se dispensa o despertar de um novo dia que esmorece após algumas horas.

terça-feira, 12 de junho de 2012

As coisas seguem, eu passo apenas...

Em anos que voam, arrastam-se os dias,Lentamente as horas, os minutos, os segundos passam,E, com eles, passo eu pela vida,Deixo nela as marcas de meus passos débeis de amor por viver.

Sedenta de vida, não sei até onde vivo ou passo apenas,Sei apenas que passa e que eu passo tambémJunto aos dias, aos instantes eternos de meus momentos...Momentos de plenitude de minha alma.


E a vida passa por mim, diante de meus olhos...Agarro dela apenas os fragmentos e deixo outros seguirem adianteComo quem se despede da dor e do amor que me preenche,Como quem se deixa levar... 


Possuo o agora apenas...


E as coisas seguem seu curso natural,Até onde interfiro ou deixo seguir, não sei.Sei apenas que seguem e que me levam junto a elasRumo a mim, rumo a tudo que me faz ser quem sou.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

O que é meu nesse mundo...


O que é meu nesse mundo? O mundo que levo em mim, nada mais!
Ele é meu, do meu jeito...
Ele me faz, eu o faço como quero que me faça...
Eu me construo ao contruí-lo e o vejo ruir cada vez que desmorono...

O que é meu nesse mundo? apenas aquilo que ninguém me pede, me cobra ou reclama...
Pois o que é meu mesmo, só meu... só eu conheço!
O que é meu nesse mundo? O mundo que carrego na luz que irradia meus caminhos,
Mas que não é vista por olhos, tocado ou sentido por ninguém...

O que é meu nesse mundo é tudo que não tenho,
Pois mãos fáceis e confortáveis de segurar são as minhas...
Minhas mãos que trago vazias,
Nada mais!
Elas são tudo O que é meu nesse mundo...

Imagem da web

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O desvão da alma

Trago guardados no peito muitos segredos,
Escondidos nos desvões mais profundos da alma...
Lá escondo o que meus olhos denunciam,
Escondo o que eles não querem ver por medo,
Ou que guardo por zelo, simples zelo de possuir.

Sou o que o meu silêncio diz, o que meu toque apaga ou provoca.
Sou a agressão da vida a mim mesma,
O engano de ser o que gostaria,
A certeza de ser o que não queria,
A incapacidade de nega-me a mim, ao que supostamente amo.

No desvão mais profundo do meu ser guardei o que me sufoca,
Calei os gritos e gargalhei estridente.
Ouvi os chamados da vida e ignorei boa parte deles...
Não sei o porquê, mas o fiz...

Possuo a alma dos desvões inatingíveis,
Tão misteriosos que eu mesma os desconheço.
Possuo o coração das causas claras, raras
E dos toques agridoces que minhas palavras revelam.

Sinto os sentires mais ambíguos:
Sou a própria ambiguidade, o paradoxo do ser.
Sou o desvão de mim mesma que me quer apagar para ser o nada,
Mas que inconformada de ser pouco, surge
Do nada, ao nada. Do mundo, ao mundo.


domingo, 15 de abril de 2012

Um novo amor se vai, eu permaneço

Um novo amor se vai, eu permaneço nos muitos lugares por onde ando.
Nas muitas vidas que conheço, nos muitos amores que não vivi.
Um novo amor se encontra, enquanto me perco na procura,
Uma nova vida me surge aos olhos enquanto a minha se renova ao se desgastar.
Uma nova estrela se apaga enquanto um brilho antigo de Luar reluz,
OS corpos que se despem na volúpia que os seduz...

E mais um novo amor se vai... eu apenas permaneço,
Em mim, no amor que passou, na vida que virá...
Permaneço nos laços desfeitos, no espaço vazio,
No coração preenchido pelo nada que me é tudo,
Permaneço na inconstância de ser sempre um novo
Um novo que se vai enquanto permaneço...

Permaneço na inércia de ser a mudança,
Na sanidade de ser louco,
Na loucura de são,
No Amor que declaro ao gritar que odeio,
Na magia de ser o mesmo o dia inteiro,
Na doçura de ser outro no dia seguinte,
Na novidade de ser sempre o mesmo,
Na certeza de permanecer enquanto todos se vão.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Declaração de Amor

Poesia não é trabalho árduo,
Apenas flui leve, doce, dorida
Como lágrima da alma que chora
À face que molha,
Como sangue que brota
de ferida invisível da alma.

Poesia é como o suor que molha o corpo,
É brisa que acaricia a face amada
Como um toque à pele do amor distante.
Poesia é sentir vida, é sofrer por estar vivo,
Louvar a vida.

Poesia é dimensão metafísica,
Visão da alma que não somente enxerga, sente.
É o amor supremo que não exige um corpo,
É o puro amor que a palavra não diz,
Mas que pulsa no corpo.

domingo, 25 de março de 2012

Leva-se algum tempo...

Leva-se um tempo até descobrir que a vida, um dia, acaba
Que o grande amor de sua vida pode não aparecer ou podem ser muitos
Que os sonhos de um dia podem não realizar-se e, mesmo assim,
A vida pode ter sentido.

Leva-se um tempo até perceber que o vício não grita que é vício
Que a mentira pode ter pernas longas,
Que o diabo nem é tão feio e até seduz...
Que a mágoa só faz mal a quem sente
E, que a força disso está em não gritar quem são.

Leva-se um bom tempo até sarar as feridas,
Esquecer-se das dores e voltar a enxergar na vida, flores...
Pode-se levar muito, muito tempo até descobrir que o Amor é nobre
Que para amar não é preciso estar perto ou mesmo, ser amado,
Que sonhos confundem-se com ilusões e que a vaidade mata.

Ah, leva-se um bom tempo, talvez uma vida,
Até descobrir que quem se foi, na verdade permanece,
Talvez mais perto que antes,
Que os erros também partiram de nós
E quem nem todos estão dispostos a sacrifícios...

Que um "eu te amo" pode ofender, afastar
Que nossos fantasmas são somente nossos,
Que nossas palavras também podem ferir,
E que raramente somos vítimas

Leva-se sempre muito tempo até perceber quem se é
E que nosso "eu" possui imagem invisível,
Palpável, no entanto.
Que apesar de nossas, as palavras traem,
Que há coisas que ainda não aprendemos, apesar das teorias

E que há coisas que apenas levam tempo,
Muito tempo... para ser sentidas.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Existir não existindo

Se com os olhos do corpo, vejo,
Com os da alma, vejo mais.
Com uma visão que não tem cor, mas tem calor,
Tem o som das sensações que os sentidos que não possuem.

Se com o corpo posso aquecer,
Com a alma, aqueço mais
Com um calor que não precisa de toque pra existir, basta sentir.
Tem o calor que a alma sente e exala feito perfume e que o corpo não possui.

Se com a boca, sorrio
Com meu semblante, sorrio mais.
Não com um sorriso que pode ser forçado, não por gargalhar...
Mas com um sorriso de alma que somente uma face em paz executa
Leve e sem som.

Se com as palavras, falo o que sinto
Em silêncio, falo mais, muito mais...
Um falar sincero, meu e que não precisa mentir
Um falar dirigido a poucos, ou a todos...

A todos os que sabem enxergar além dos olhos,
Sentir-se aquecido na solidão,
Aos que aprenderam a ler um semblante
E a ouvir o silêncio...

E assim, posso existir, mesmo não existindo.

sábado, 17 de março de 2012

Tão somente... envelhecer...

Envelheço quando perco a pressa de fazer as coisas,
Quando as rugas, tão temidas no passado, orgulham-me,
Quando o Amor não é somente carnal,
Quando a beleza não é mais estética,mas poética.

Envelheço quando os dias não são somente dias,
mas são meus, meus dias, minha vida, meu momento.
Envelheço quando me vejo inútil diante do tempo,
Quando descubro a força que me exige ser manso,
O esforço que me cobra ser sereno,
Quando sinto o peso de ser leve.

Amadureço quando os elogios são temidos e as críticas,
Ah... elas são os degraus mais firmes,
Sustentam minha caminhada rumo a mim,
Refletem, sem medo ou vergonha, a minha imagem,
Livram-me da prisão da culpa por ter errado.

Minha liberdade parte de mim,
Meu perdão me liberta de meu julgo
E os outros se vão...retornarão ou não.
Conserto meus erros quando me descubro,
E alço voo pleno rumo a mim,

Vivo em plenitude quando envelheço,
Não envelheço quando amadureço,
Eternizo-me em mim, no mundo,
Sou essência, sumo.
Vida que vibra quando me assumo.
Tão somente, eu.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Tênue e forte

Há momentos em que a poesia, como em um passe de mágica, desaparece e as palavras mostram o quanto são inúteis sem a essência de um sentir. ah, que sentir é esse que faz dos humanos tão diferentes? Que alma é essa que contém os vivos de tal modo a sentir um vazio infinito se não a cultiva?
Mistérios, meu caro, indecifráveis mistérios. Cabe-nos viver apenas e viver apoiados no não saber o que virá, mas apenas sentir a dor e amor que há. Sentir o nada, tentar fazer algo para reverter ou fazer nada... Viver também pode ser esperar porque, às vezes a ação atrapalha e há coisas que são tão tênues que um simples toque as rompe. 
Não seria o forte melhor? Não se considerarmos que o tênue não é frágil, mas apenas tênue. Coisas assim devem ser assim tocadas, assim guardadas, assim cuidadas, assim preservadas... É também forte ser delicado, senão a maior das forças. É também forte guardar certas verdades: Verdades ditas em momentos inoportunos não passam mentiras, meras mentiras... É também ser forte tocar o tênue sem rompê-lo ou simplesmente, não tocá-lo embora os instintos nos impulsione a fazê-lo... 
É ser forte olhar-se diante do espelho e, sem maquiagem, encarar o reflexo de si mesmo, sem buscar culpas ou atribuí-la a alguém. É ser forte não ouvir, não enxergar, mas sentir...
Há momentos em que a poesia volta... sorrateira e tênue como a brisa: invisível, mas perceptível.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

E assim caminha a humanidade...

Como fantoches andam os homens,
Feito bonecos seguem, vazios de si:
Figurantes da própria existência,
Ignorantes da própria essência.

Feito fantoches seguem os humanos sem alma:
Confundindo resignação com calma.
Professando em favor do inimigo,
Escondendo-se de seus medos,
Justificando-os com outros maiores.

Feito bonecos de palha, espantalhos, cegos espantalhos
Seguem os homens: em procissão rumo ao abismo,
Embriagados pela ausência de sua própria alma...
Feito fantoches andam os homens:
Sepultando-se em sua própria soberba,
Arrancando de si o coração,
Repetindo, feito bonecos programados, palavras impensadas.

Feito bonecos, oram sem fé só porque é moda.
Cultivam os heróis de outrora como se fossem novos.
Feito bonecos de palha, vidro ou madeira agem os homens:
Gritam ser ateus porque  não concordam com o que dizem sobre Deus.

Feito bonecos de aço, trabalham os homens:
Rumo aos bens de donos sem rostos...
Desprovidos de alma, matam-se mutuamente,
Suicidam-se diariamente, pouco a pouco.

Feito bonecos de pano, rasgam-se, mutilam-se, destroem-se...
Feito fantoches.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Cada dia

Viver cada dia sentindo o seu sabor
Degustando cada acontecimento, aprendendo com cada dor...
Sentir seu cheiro e apreciar cada detalhe.
Desejo viver cada dia como quem nasce a cada amanhecer,
Respirando a vida, celebrando cada momento, sentindo o sabor de cada passo,
O calor de cada abraço, o frio de cada despedida...

É fascinante viver os dias disposto a dar-lhes as boas vindas
Observar cada detalhe como quem jamais voltará a enxergar,
Alimentar-se da vida como quem está faminto e sedento,
Abraçar sofregamente, amar intensamente, vivendo a magia de cada toque
Viver os dias em êxtase puro...

É preciso viver cada dia como quem viverá apenas um...
Como quem vive um novo amor de curta duração,
Rir de cada frustração, abraçando carinhosamente o presente de vivenciar.
Não esperar da vida nada além do que se estar disposto a dar,
Viver cada dia como um novo amor, único, sem repetição
Apreciar cada uma de suas horas intensamente, desde o calor de seu nascer até o frio de sua morte.

Despedir-se de cada dia como quem se despede se si mesmo...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Infinitas miniaturas...

Em meio a multidão, todos são apenas mais um,
Um número a mais, somando estatísticas, sem rostos ou gostos.
É onde se descobre o estar só.
É no estar sozinho em meio à multidão que se descobre que há, dentro de si, uma imensidão.

É um imenso abstrato, impalpável e, ao mesmo tempo, tão forte,
Tanto quanto um tapa na cara... quanto um beijo apaixonado, um abraço ou mesmo, uma saudade.
É no estar só que se descobre único,
Que há um universo inteiro dentro de si...

Cada rosto é um história, carrega em si um mundo inteiro,
Um mundo de sonhos, dores, amores, espinhos e flores.
Uns com passos firmes, outros, cansados...
Pensamentos práticos ou devaneios norteiam esses mundos,
Tão em busca de si, tão anônimos ao mundo...

É no estar só em meio a um mundo, a milhões de mundos
Que o mundo particular se revela.
São todos infinitas miniaturas, plenas de si,
Sedentas por ser, muito mais que por existir...

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Os aprendizes do Viver

Já dizia o poeta: "Viver é não ter a vergonha de ser feliz... cantar a beleza de ser um eterno aprendiz". No entanto, há no ser humano características que lhe toma, por vezes, a essência desse aprender. Há a culpa que nos move para baixo e amplia a dor; há o medo que nos paralisa, há o orgulho que nos mata, obrigando-nos a viver num abismo que, por vezes, nós mesmos construímos.
Juntos ou separados esses elementos tomam de nós o que há de mais belo: O perdão. Como é difícil perdoar a alguém que nos fez sentir dor. Como é difícil e doloroso perdoar a si mesmo quando se reconhece que errou. Não sei se por culpa ou orgulho, o autoperdão é sempre mais complicado. É diferente do orgulho vil e vão que nos faz mentir ao dizer que não perdoou o outro, mesmo quando o coração já o fez. Talvez seja mais difícil por, muitas vezes, necessitar reconhecer que os defeitos que costumamos apontar nos outros, na verdade residem em nós mesmos. 
 Não ter vergonha de se assumir aprendiz da vida... de admitir que errou e que está na vida para aprender. Como é fácil falar, como é difícil fazer isso e enxergar também no outro um aprendiz e, portanto, passível de cometer enganos a qualquer momento. Seria tão fácil, tão mais doce a vida se o orgulho não existisse... 
Quem viveu uma vida sem se perguntar o que é a felicidade que atire a primeira pedra. Acredito mesmo é que ela não tem nome nem rosto. É algo que possui apenas essência e uma intensidade incrível que varia não de coisa para coisa, nem de pessoa para pessoa, mas do poder que certas coisas ou pessoas podem exercer sobre outras e em determinados momentos.
Ser aprendiz da vida é muito mais do que qualquer palavra consegue explicar. É não ter vergonha de ser medíocre para alguns, vergonhoso para outros, invisível para uns tantos. Embora abrir os olhos para os meandros da vida e dos fatos que a regem, bem como as relações humanas por vezes amplie a dor de viver, é de olhos abertos que se deve seguir mesmo que isso signifique enxergar com maior nitidez as cicatrizes que nos permitimos fazer nesse caminho. 
Não importa se aos olhos de alguns causamos vergonha, importa a paz que nos brota da alma, o perdão de nós mesmos e do outro... Importa levantar depois de cada queda, mesmo que aqueles por quem caímos não estejam para nos dar a mão e ajudar a levantar. Vale mesmo é recomeçar apesar das feridas e enxergar cada cicatriz como troféu de alguém que passará uma eternidade aprendendo.