Fragmentos de mim: 2014

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Celebração das ausências

Celebrar cada dia como se fosse o último,
Cada respirar o ar como se fosse único,
Cada acontecimento como se fosse durar para sempre...

Ah, quem dera mergulhar na eternidade das doces lembranças,
Quem me dera afogar-me no negro infinito de seus olhos,
Até tocar a sua alma...
Quem me dera afogar-me no calor de seu abraço e na leveza de seu perfume...
Quem me dera fazer eterno o segundo em que a indiferença de seu olhar
Fez-se ternura ao me enxergar.

Mas há as ausências e o real celebrar da saudade
Há a incerteza de seus pensamentos,
Há a certeza de que existo e não tenho a sua companhia...

Reservo-me, então, a celebrar
Celebrar a angústia de te saber distante,
Celebrar os Natais que nunca tive ao seu lado,
O seu aniversário sem meu abraço,
O nascer do Ano Novo sem saber onde te encontrar...

Celebrar a certeza de que você existe em meu mundo,
Mesmo sabendo não existir para você...
Só me resta celebrar todos os dias de minha vida
Em que sua ausência marca presença na minha,
Celebrar uma vida inteira sem você,
E, ao mesmo tempo, vivendo você,
Sonhando você,
E existindo por você...

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O que você faria?

O que você faria se soubesse que sua existência motiva,
Talvez não os mais belos versos, mas certamente os desejos mais profundos
E os mais puros sentires?
O que você faria se um belo dia a sua alma te dissesse que todos os seus conceitos estão equivocados?
O que você faria se soubesse que nada, nem mesmo o seu silêncio,
É capaz de calar o grito da alma que ama a sua?
O que você faria se um belo dia o Amor se apresentasse a você de uma maneira diferente?

O que você faria? Qual seria a sua reação?
Choraria?
Gritaria?
Arderia de desejos?
Morreria de medo?
Ou cairia nos braços que te amam?

Fugiria ou abraçaria a alma que te acolhe
E que guarda feito anjo vagabundo,
Que te observa ao dormir?
Você rejeitaria o amor que guarda? (...)
O que você sentiria se soubesse que qualquer atitude sua é inútil?

O que você faria se soubesse que, ao andar pelo mundo,
Ao pisar nos caminhos terrestres, você deixou cair,
Assim, sem querer,
Sementes de um Amor que brotou em solo desconhecido?
Se soubesse que esse Amor se alastrou feito erva daninha
E brotou feito rosa que desabrocha,
E perfuma seus caminhos, embora sofra com os espinhos,
Mesmo sem você perceber?

O que você faria se soubesse das revoluções que provoca,
Dos desejos que acende,
Das lágrimas que força cair e dos sonhos que povoa?
O que você faria se soubesse das coisas que as palavras não podem dizer...?



segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O que trago no peito

Trago no peito amores, que talvez o mundo não entenderia,
Que grandes estruturas abalaria, e memoráveis guerras deflagraria...
Trago no meu peito o Amor dos fortes,
Aquele que suporta o golpe de viver no silêncio,
Marcado pela ausência e pela eterna saudade.

Trago no meu peito um amor que o mundo não saberia entender,
Mas que me guia rumo ao pesadelo doce de desejar o impossível,
E de me contentar com isso...
Trago em meu peito uma grande marca, cujo nome e rosto somente eu entendo.
Cuja delicadeza somente às mais belas flores se assemelha
E com ninguém mais se pode confundir...

Trago em meu peito um amor que ri ao chorar,
Que grita em silêncio,
Que idioma algum consegue traduzir,
Palavra alguma nomeia,
E que, por isso, cala: Não se faz visível aos olhos comuns,
Porque Amor assim é vivência de poeta,
E os poetas não são comuns.
Os poetas o mundo não entende...

Trago em meu peito um Amor que o mundo não aceitaria, criticaria,
Rejeitaria...
Mas que é a maior busca de mim,
Que me dividiu eternamente em Antes e Depois,
Para ser mais nada mais Além
Do Amor que trago em meu peito

E que o mundo jamais entenderia...

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Olhos nos olhos

"O que eu sou hoje é como a unidade no corredor do fim da casa,
Ponto grelado nas paredes...
[...] É estar eu sobrevivente a mim mesmo, como um fósforo frio".
(Fernando Pessoa)

           Encaro a fotografia que, dia após dia, torna-se antiga e assume as cores que o tempo decide, em sua infinita sabedoria e paciência, aplicar à imagem que, um dia, reproduziu fielmente minha aparência. Assim como tudo que independe de minhas vontades, vejo cores com nuances que eu não desejaria, bem como a deformidade da imagem em relação a que agora, encara a outra, inerte e reproduzida como mero borrão, formas mortas e frias, ausente de alma. Seja no papel, seja na tela do computador, pouco a pouco percebo aumentar a distância entre mim e a pessoa da foto.
           É inevitável, irrepreensível o poder, a capacidade de passar, que o tempo possui: ao mesmo tempo em que deforma a forma, ele restabelece a alma na eterna conjuntura da mudança. Deixo de ser eu continuamente, a fim de não me perder em meu próprio eu. Percebo-me no vivo e inconstante paradoxo da existência: cada vez que me perco de mim, entro em sintonia comigo mesma de maneira mais intensa, mais profunda...
           Olho novamente a foto, referência fixa de um tempo que se foi e levou junto de si tudo que eu era, tudo que eu desejava ser, tudo e todos em que eu acreditava, o amor que eu vivia e os sonhos que acalentava... percebo que este contato é o mesmo que encarar, olhos nos olhos, a distância que me separa de mim. A compreensão de para onde me levaram cada uma das minhas vivências e a incerteza de aonde chegarei com as vivências de agora. 
         Porque a vida é esse mistério de se descobrir diferente daquilo que, um dia, se pensou ser; de se perder no infinito de quem se é no presente e de não fazer a menor ideia de quem será no futuro. E a fotografia me diz que, de tudo isso, há uma certeza, apenas: Não serei, amanhã, quem sou hoje. E isso me deixa aliviada, ao mesmo tempo em que me enche de receios...

domingo, 4 de maio de 2014

O Mandamento Maior

"Me ame quando eu menos merecer, pois é quando mais eu necessito".
(Madre Tereza de Calcutá)

Ai, o Amor, ELE é mesmo apenas para os fortes. Imagine você a força que precisa ter alguém para carregar em si algo capaz de fazer estremecer as muralhas de todas as dificuldades do mundo,
Algo capaz de aproximar os ausentes,
Alimentar, com o lírio da esperança,aquele que fraqueja pela dor da saudade,
Saciar a sede com um brilho nos olhos,
Salvar um dia com um beijo,
Aquecer o frio da solidão, apenas com a lembrança de um abraço.
O Amor desconhece distâncias,amplia saudades,
Provoca e faz esquecer as dores, pois por ELE, tudo vale a pena.
Em nome do Amor, todas as belas palavras do mundo,

O AMOR é o complexo simples.
É dELE que parte a beleza das flores,
É ELE a alma de todas as coisas, o brilho de todas as cores,
Quem ama despe a alma,
Renuncia,
Aceita,
Provoca,
Respeita,
É a força suave, o silêncio que ensurdece,
A única e verdadeira guerra santa.

O Amor me aproxima de quem a vida me afasta, 
Permite-me ter quem não me pertence.
nELE não há regras, pois ELE é o Maior de todos os Mandamentos.

O Amor é a fraqueza dos fortes e força dos fracos,
É a força contraditória que equilibra o mundo.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Só de passagem

Só de passagem eu vi tantas coisas e nada deixei gravar,
Só de passagem vi as cores que a vida me ensinou a pintar,
Só de passagem vi amores que, um dia, sonhei ficar,
Só de passagem, tantos se foram, e eu aqui, ainda, a sonhar...

A vida é voz que não precisa falar,
Só de passagem por ela é possível ficar,
Numa palavra dita, num olhar que brilhou, num toque rápido de mãos
Que mesmo, só de passagem, deixou um perfume, tatuou uma imagem.

Se tudo é só uma passagem por onde deslizo no portal do tempo,
Por que tanta coisa ficou?
Que alma é essa que não pára?
Que grito é esse, que não cala?
Que ferida é essa que não sara?

Por que, só de passagem, feriu e a ferida não passou?
Porque é preciso que se deixe, deixe que passe...
Jamais passa aquilo que se prende,
Jamais sara a ferida contemplada,
Jamais cura a mágoa recordada...

Então deixa, deixa que a poeira do tempo apague o brilho cruel da dor,
Deixa que as cinzas do esquecimento tornem opacas as forças do grito,
Deixa que murchem as flores e delas se apague a cor,
Que lhes caiam as pétalas feito vida que se esvai,
Deixa na memória apenas a lembrança doce, do perfume que tiveram...

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Comparativos: poesia de trovador

Feito animal no cio eu te farejo,
Percorro o mundo seguindo o teu cheiro,
A textura de sua pele.
Feito alguém perdido no deserto, eu te necessito,
Qual água para saciar a minha sede;

Feito retirante, eu caminho em busca de você,
Terra fértil, minha fonte de vida, alimento da alma.
Feito criança carente, eu busco o teu regaço, meu refúgio...

Tal anjo protetor, eu te guardo em mim
... e te liberto...
Mas invejo o mundo...

Sinto inveja da roupa que te veste,
Por ela tocar seu corpo inteiro como eu não posso...
Invejo o Sol que te aquece, como eu faria em meu abraço,
Invejo a brisa que te toca e beija...

Ah, quem dera, ao menos uma vez, ser brisa
A beijar docemente e tocar sua pele macia...
Realizo-me, pois, por meio da Natureza,
Que te acolhe e se aproveita de você,
Ao desfrutar do perfume de sua existência,
Da visão única de sua beleza...

E eis que admiro seu nome,
Qual fiel que venera um santo no altar.

Você é minha oração.