Fragmentos de mim: maio 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Refletir... Reflexos

Não foi dado ao ser humano o dom de olhar dentros dos próprios olhos... Sinceramente, isso sempre me angustiou. Afinal, precisar sempre de um espelho para refletir minha imagem, fazia-me sentir até certo ponto desconfortável. Em meus devaneios sobre o assunto, cheguei a diversas respostas tão díspares quanto incoerentes entre si. O fato é que não compreendia o motivo de a natureza ter-me produzido com tal defeito de fábrica.
Ora sinto-me angustiada por isso, ora, aliviada... Das milhões de conjeturas que me povoam os pensamentos, uma delas me diz que a natureza não me permitiu o privilégio (ou o castigo) de estar diante de mim mesma pelo fato de que, se isso fosse possível, eu corerria o risco de julgar-me equivocadamente como os outros também o podem fazer...
Diante desta reflexão, o espelho me surge como uma espécia de metáfora que me diz que não posso ser só... Sim, eu preciso dos outros, eles me ajudam a regular a minha imagem e, assim como espelhos, alguns indivíduos me distorcem: há os que me ampliam, os que me diminuem, os que me engordam ou emagrecem, dentre outras deturpações...
Apenas em um aspecto pessoas e espelhos concordam: Fico mais apresentável se uso roupas de grife e "maquiagem". Se me despojo de tais artifícios, se me mostro tal como minha natureza me fez, os espelhos nem sempre vão refletir imagens tão belas e, por isso, reprovam-me.
Assim como nos contos, não ser belo quebra os espelhos da vida... deixa-nos sem referências externas, restando-nos apenas uma maneira de refletir nossa imagem: A consciência, instrumento capaz de refletir imagens abstratas, tão abstratas que muitos não conseguem encontrá-la no fundo do baú de suas personalidades.
Talvez a existência deste espelho seja um modo de a natureza nos dizer que não precisamos olhar em nossos olhos físicos para morrermos de vergonha de nossos erros, que não é preciso estarmos diante de nossa própria face para aprendermos com nós mesmos ... que nossa beleza física independe do que os demais espelhos são capazes de refletir, pois eles ou quebram, ou vão embora.
No final, restamos apenas nós a nós mesmos...
Quanto ao meu espelho interno, uma vez que o encontro, jamais me verei sem ele, bem como é o uso que faço dele que definirá o reflexo que terei diante dos Outros e, especialmente, diante de mim mesma.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Um olhar para o momento...

Sou humana e como tal, reservei este espaço para compartilhar um pouco daquilo que permeia a minha alma... 
Sou professora, funcionária pública e, com isso, diante do cenário vivenciado atualmente em nosso Estado, não poso me furtar da oportunidade de me sentir humanamente magoada, estarrecida com os problemas que, se fazem parte de minha vida profissional, atingem-me imensamente como pessoa.
Diariamente, precisamos lidar com jovens cuja formação nos é atribuída. Se não se sobressaem, a culpa é nossa. Afinal, não dispomos das metodologias corretas, não estamos diariamente renovando nosso currículo e o mais inadmissível: somos capazes de errar. Não importa se faltam recursos, se não há conforto nem infraestrutura na escola, a culpa é exclusivamente nossa. 
Não interessa se meus alunos não dispõem de infraestrutura social e familiar que contribua com meu trabalho, pois se ele não aprende tudo como deveria e como lhe é de direito, a culpa é somente minha.
Interessante que geralmente os debates que visam identificar os problemas existentes na educação brasileira não incluem em seus quesitos, a qualidade de vida do professor. 
Às vezes chego a ter a impressão de que professor não é gente. Precisamos ser referencial moral, de conhecimento, de perfeição mas não param para nos perguntar do que precisamos, onde estão nossas limitações, como fazer para saná-las, ao menos. 
É angustiante ver escolas e universidades públicas caindo aos pedaços e, enquanto isso, um governante gargalha. É angustiante perceber-se responsável por uma função tão nobre quanto a educação, saber-se capaz de fazer melhor e não dispor de condições de fazê-lo. 
Antes de ser professora, sou humana, sinto fome, cansaço, tristeza, bem como tenho sonhos e aspirações como qualquer outra pessoa. Será que também eu não poderia ter o direito de ser como os demais?? Onde estão, na prática, os direitos do professor?
Quem, em sã consciência, consegue estar profissionalmente feliz trabalhando em um ambiente sujo, com móveis quebrados, onde sequer portas e janelas estão em boas condições? Que profissional consegue desempenhar um bom trabalho se não recebe uma remuneração justa e não dispõe de tempo nem ao menos para dormir direito?
Faço minhas todas as palavras da professora do RN, em especial quando esta afirma que nossas necessidades são urgentes e que ninguém, melhor do que nós, pode nos dizer quais são os problemas por que passa a educação neste país. 
Não me vejo atuando em outra área que não seja a educação. Entretanto, confesso que seria mais feliz se conseguisse vislumbrar melhorias nesta que é a profissão que a vida, acertadamente, me levou a escolher e  na qual deposito minhas esperanças de um mundo de paz e menos miséria.