Fragmentos de mim: julho 2016

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Perder alguém

Ah, a vida e suas surpresas... algumas nem tão surpresas assim... perder pessoas é, de todas, talvez a mais misteriosa. Não uma perda qualquer, mas a de quando a morte chega, atendendo a um pedido da vida, que decide ir embora...
Quando há amor, é impossível passar por isso sem sentir dor. Não uma dor qualquer, mas daquelas cuja intensidade cria a sensação de que a própria alma está em pedaços.,. Por alguns momentos, a gente chega a pensar que não existe mais e apesar de todas as explicações racionais, o luto é inevitável.
Mesmo quando tudo nos leva a perceber que a morte se aproxima e mesmo sabendo que ela é a única saída, a dor não se faz menor. Uma coisa é certa: fui condenada a ser filha única. Nesta vida, não há outra saída. E mais difícil que ser filha única é não tê-lo sido sempre, porque agora há a saudade...
Eu tive um irmão especial em todos os sentidos, pois nunca conheci e imagino que não conhecerei outro ser tão puro, tão bom, tão inocente e, ao mesmo tempo, tão inteligente. Guardo-o para mim e em mim o seu primeiro sorriso, nos primeiros dias de vida a me contemplar sereno... guardo a linda lembrança de seus ensaios de pronunciar meu nome enquanto engatinhava pela casa inteira, sorrindo e dizendo "Etxii..." repetia, repetia até eu entender que era meu nome que ele chamava... e como sorriu feliz quando finalmente entendemos que era por mim que chamava... me deu daqueles beijinhos babados de bebê em gargalhadas de felicidade...
Senti-me um pouco sua mãe...
Ah... quero guardar para mim as melhores lembranças do garotinho que sempre foi criança e cujas últimas palavras para mim, foram: "eu te amo". Sei que vou guardá-lo até além desta vida, aonde ele foi primeiro.
Sentimos tanto Amor, tanta saudade, tanta dor e, ao mesmo tempo em que torcemos para que o tempo corra, cada hora que passa, mais distantes nos tornamos do seu cheiro, da sua voz, do seu calor... mas em momento algum há revolta ou inconformismo... sabemos que ele estava cansado e seria egoísmo não nos conformarmos com os desígnios sábios da Natureza, que decidiu dar um basta em suas dores. Entretanto, nossa carne dói como se dela houvesse sido arrancado brutalmente uma grande e importante parte.
Como toda ferida, acreditamos que essa também vai sarar e do nosso menino brilhará sempre o sorriso franco e inocente, coisa tão rara nos dias que correm. Afinal, nós não o perdemos, apenas a Natureza o recebeu de volta e nos deixou com o presente de tê-lo tido conosco e de ainda o termos em nossos melhores sentimentos e recordações.
A morte do corpo não é um monstro, mas um alívio, uma necessidade e um fim do qual nenhum ser vivente está imune. Portanto, não perdi um irmão, estou apenas temporariamente sem poder tocá-lo, mas jamais sem amá-lo, sem senti-lo, sem lembrá-lo.