Fragmentos de mim: novembro 2012

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A máquina do tempo

As coisas têm o poder de nos fazer viajar no tempo. Uma fotografia, um perfume, uma peça de roupa, ou mesmo pequenas coisas como um objeto jogado, esquecido em algum cômodo da casa podem, como num passe de mágica, nos conduzir a um momento marcante de nossa existência.
O cheiro do outro que permanece na pele é como perfume natural que conduz o espírito à presença que permanece, mesmo depois que a companhia é um passado recente, é a certeza de que não estivemos só e de que há alguém no mundo que, de uma maneira intimamente única, esteve conosco.
Certas coisas nos relembram saudades, sentimentos profundos que carregávamos enquanto aquele perfume era usado ou aquela roupa era escolhida para sair de casa, numa tentativa louca de livrar-se da solidão.
O vinho que sobrou na garrafa é poderoso o suficiente para nos fazer viajar na máquina do tempo da memória até o momento em que ela foi aberta, até a deliciosa conversa que teve seu sabor misturado ao da bebida, bem como aos momentos sagrados a dois que coroaram a noite...
Claro que o poder dessas coisas depende muito das emoções que elas acompanharam ou previram num dado momento do passado. A lingerie delicadamente jogada sobre o corpo na espera da chegada do amante, sempre que vista ou vestida lembra, ou mesmo, desperta a sensação de espera um dia vivida; A música que embalou aquela noite de amor jamais será a mesma, pois sempre que ouvida despertará as emoções degustadas naqueles momentos inesquecíveis...
A máquina do tempo da alma está a todo instante e involuntariamente, disposta a nos conduzir ao que de mais forte e marcante um dia fez parte de nós. Faz do passado, presente. Faz de uma mera lembrança, um sentimento.