Fragmentos de mim: janeiro 2019

sábado, 26 de janeiro de 2019

Rompimentos

A vida é um constante recomeçar e nesse processo, não cabem a modorra e a letargia. Feito crianças que fazem birra, reclamamos quando algo não sai como gostaríamos. Sim, rompimentos, rupturas doem. Contudo, se apertamos os nós em vez de estabelecer laços, a ferida será muito mais profunda e deixará sequelas que a poeira do tempo terá trabalho para deixar opaca.
Tal como a borboleta, em sua dolorosa metamorfose, estamos sendo preparados, cada um de acordo com sua necessidade e possibilidades, para vivermos em movimento em direção ao Bem, em direção a voos que exigirão de nós a perda do medo de altura e das vicissitudes que teimarão em nos forçar a queda.
No final das contas, a escolha é só nossa: afundamos na tristeza do lodo pestilencial de nossas trevas ou alçamos voo em direção ao Sol. Podemos nos afogar na dor ou buscar a cura, que normalmente nos exige romper com nosso padrão de melancolia doentia de criança mimada e birrenta. Não, as coisas não são como queremos, mas como precisamos que elas sejam. 
O tempo tudo resolve e nos transforma naquilo que optarmos ser. Optemos por Viver a graça do presente divino de estarmos vivos. Viver é hoje; viver é agora! 
Sejamos fraternos acima de tudo. As paixões passam e sua chama ardente se apaga em curto espaço de tempo. Os afetos da alma, no entanto, permanecem, e o Amor divino nos ampara incessantemente em seu regaço de paz e infinita misericórdia. 
Rompamos, portanto, com o que nos fere a consciência, voemos, tal como o pássaro que se liberta do jugo da gaiola fechada, respirando ar puro e sem olhar pra trás. 
Tenhamos a certeza: "Deus está mais próximo de nós do que nossa própria respiração". 

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Carta sobre cartas

Querido afeto do meu coração,
Torço muito que seu dia esteja sendo de paz e que seu coração seja tocado pela certeza de ser alguém muito amado. Cada carta que te escrevo tem-se feito prece pela sua felicidade e uma maneira de enganar a saudade que sinto de você.
É interessante como a vida é engraçada. Há seres que passam anos ao nosso lado e não significam coisa alguma, já há outros que são como você. O que eu acho mesmo é que alguns afetos já estão gravados em nossa alma mesmo antes de virmos a nascer. Já nascemos amando algumas pessoas e a tarefa da vida é só fazer com que as encontremos.
A vida é perfeita! Afinal, é certo que se pode viver no mundo sem dinheiro, sem sexo, sem posição ou status de destaque, mas a alma humana não vive sem afetos. Somos programados para amar e você é alguém que, inexplicavelmente, nunca me ofereceu dificuldade para germinar bons sentimentos. 
Não se trata de te achar uma pessoa perfeita. Não se pode cobrar isso de ninguém e, em especial de quem se ama. Minha felicidade não depende de você , mas sua existência certamente contribui muito para que meu coração pulse mais feliz, com o calor do amor. Você é como um raio de sol. No mais, quando um afeto é verdadeiro, falhas são detalhes com que se vive num continnum dialético de tolerância, fraternidade e carinho. 
Amar as pessoas é um desafio imenso a cada de um de nós, talvez porque nos desafia a combater o ego. Isso inclui não se importar com reciprocidade, porque o que me define é o que eu sinto e por que o faço.
Meu querido, que seus afetos o façam feliz; que você sempre encontre guarida em corações afetuosos e que jamais se esqueça de que o guardo amparado com o melhor sentir que me é possível alcançar.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Coisas difíceis de entender...

Há um horizonte infinito para além de nossas limitações. Há sensações que nunca conheceremos por mais intensas e múltiplas que sejam nossas descobertas.
Há coisas que são difíceis de entender e o são simplesmente por não as termos acessado devidamente ou, por nunca as termos acessado ao menos.
Somos seres limitados. Só entendemos aquilo que vivenciamos, sentimos queimar a pele e a alma. Muitas vezes, nem assim. Pouco a pouco, fui entendendo coisas que até hoje não compreendo como não enxergava, de tão óbvias que são. Recentemente, percebi que por mais tempo que eu viva, haverá coisas que não vou conseguir entender. Mas sinto-me aliviada por saber que isso é normal. O universo é grande demais para um ser humano entender. No entanto, precisamos desta consciência antes de submeter os outros ao crivo de nossas vivências.
A primeira vez em que esse insight de consciência me ocorreu eu já tinha mais de 25 anos. Eu conversava com uma amiga e ela me disse que eu via o bem nas pessoas na mesma medida em que ele está em mim.
Sinceramente, senti-me incomodada. Não por ela ter me elogiado, (porque foi num elogio) mas por ter parado para pensar em como a ingenuidade nos é danosa. É claro que não se deve buscar o mal nos outros o tempo inteiro, mas atitudes de vigilância são fundamentais, e as possibilidades de nos enganarmos com algumas pessoas são palpáveis de tão reais. E eu tinha a alma desarmada. Pior que isso, ingênua.
O que fazer, então? Bem, os caminhos da busca pelo equilíbrio não são fáceis, mas é preciso arriscar-se e perder a necessidade de parecer esperto. Livremo-nos do ego travestido de amor-próprio e inteligência. Sempre haverá alguém mais inteligente que nós, ou alguém disposto a tirar vantagem de algo ou alguém, mas certamente descansa mais em paz a consciência de quem foi enganado do que a de quem enganou.
Sejamos, portanto, verdadeiros! Quem não fala a verdade para si mesmo vai mentir para todos e vai receber mentiras em troca.
Amor não é fechar os olhos para os defeitos.  Amigos e amores que não suportam que enxerguemos suas fraquezas não durarão muito em nossa vida. Não se trata de se sentir superior e apontar ao outro suas fragilidades e falhas, mas de dar as mãos e seguir juntos. Porém há quem prefira a hipocrisia. E para todos haverá a lei do retorno! É a sintonia! Além disso, o amor-próprio consiste em querer, sinceramente, ser alguém melhor e não culpar o mundo por falhas que só cabe a nós corrigir. Não é autoflagelação ou masoquismo, é consciência das próprias falhas, é honestidade.
O mundo não gira em torno de nós! Ufa! Que alívio! Cada um de nós é só mais um no meio da multidão. Um ser único, cujas necessidades mais íntimas não precisam ser denunciadas para o mundo inteiro; cujo progresso é responsabilidade exclusivamente nossa.
O ideal é que antes de querer o mundo aos nossos pés, busquemos sustentar nas mãos as rédeas da própria existência e do equilíbrio necessário para sermos quem somos, para reconhecermos nossa própria alma. Já é suficiente.

domingo, 13 de janeiro de 2019

Se arrependimento matasse...

Se arrependimento matasse... Ainda bem que não mata, né? Sempre achei interessante a maneira como as pessoas pronunciam essa frase. Geralmente, vem acompanhada de um tom de vitimismo ou arrogância. É como se nunca devêssemos nos arrepender e que, quando isso ocorre, a "culpa" não é nossa. 
É triste como nossa cultura nos ensina errado a maneira de ser forte, aparentar força.  Arrepender-se não é ser fraco. Arrepender- se não é crime!
Pode ser doloroso e deve ser ou não nos propiciará a transformação que precisa. E não, não precisa ser culpa dos outros. Nossos arrependimentos precisam ser nossos apenas. Se o outro tem do que se arrepender, isso não cabe a nós definir. É certo que erram conosco, mas a exceção de manter distância de quem nos machuca, não cabe a nós decidir do que devem se arrepender. 
Não cabe a nós sermos juízes da consciência alheia.
Antes, se alguém me perguntasse se eu me arrependia de algo, eu dizia que não, e,no caso de um sim, ele vinha sempre carregado de uma mágoa do outro.
Hoje eu assumo... Me arrependo de muita coisa. Cometi erros com muitas pessoas e comigo mesma e em diferentes momentos de minha vida. Falei coisas que não deveria ter falado, de maneiras inadequadas. Pensei coisas erradas e tão absurdas que morreria de vergonha caso alguém pudesse saber. Contudo, o mais doloroso de se arrepender é, certamente, não poder voltar atrás e consertar as coisas. 
Não se volta atrás em palavras ditas, não-ditas ou mal-ditas, e as consequências são inevitáveis. Para que serve, então, arrepende-se se isso não conserta as coisas? Uma vez retiradas do lugar, algumas coisas nunca mais voltarão a ser como antes. Algumas perdas são irreparáveis. Algumas coisas são irrecuperáveis. Arrepender-se serve para que sejamos mais prudentes e sensatos a fim de que não continuemos a perder. A fim de que sejamos mais honestos com nós mesmos. As consequências, portanto, são necessárias. Arrepender-se é saudável, é lúcido e em medida alguma nos diminui diante de ninguém ou de nós mesmos, embora assumir isso seja um golpe no ego.
Mas é certo que há coisas das quais jamais vou me arrepender. Jamais me arrependerei de ter amado as pessoas, de não ter sido conveniente sob a necessidade de ter sido hipócrita; jamais vou me arrepender de admitir meus erros e de pedir desculpas ou perdão, mesmo quando o perdão e as desculpas não foram concedidos. Me arrependo das vezes em que eu poderia ter feito isso e não fiz.
Não vou me arrepender de ter deixado abertas as portas do meu coração àqueles que decidiram ir embora. Porque uma personalidade que não se arrepende não acessa a própria essência; porque um coração que não sofre não amou verdadeiramente.