Fragmentos de mim: 2018

domingo, 30 de dezembro de 2018

Empatia

Sou de uma época e contexto em que não se falava tanto em empatia. Que bom que as coisas, mesmo lentamente, têm mudado. É fato que as atrocidades no mundo seriam em menor quantidade se a humanidade tentasse se colocar no lugar de quem sente o que ela é capaz de causar.
Bem, mas o que tenho percebido também é que, assim como outras coisas na vida, a empatia ocorre em níveis e há alguns níveis que até poucos dias, eu pouco tinha parado para pensar que existiam... E eles existem e exigem muito exercício de nossa parte.
É comum, ao tentar empático, colocarmo-nos no lugar de quem está em condição inferior à nossa, como o mais pobre, o enfermo, o abandonado, o traído, o mais triste ou o menos bonito. Dificilmente nos colocamos no lugar de quem estaria, em tese, em melhores condições que a nossa, e isso é arriscado. Por puro "senso de justiça", ou inveja mesmo, além de falta de autoaceitação, achamos malevolentes aqueles cuja alma não nos abraça como gostaríamos. É comum as pessoas serem cruéis com que é bonito ou simplesmente valorizá-los como "objeto de consumo".
Por outro lado, se viemos a este plano de existência numa condição (ou em várias) que nos torna alvo de algum tipo de preconceito, sentimo-nos injustiçados (e de fato, somos), porque vai existir a tendência de sermos rejeitados por uma determinada característica interpretada como defeito ou mesmo ojeriza. Interessante que, seja por beleza ou falta dela, por exemplo, o problema é o mesmo: temos dificuldade de acessar o que está além do que nossos olhos podem ver e tocar de imediato. Precisamos amadurecer nosso contato com a essência do outro.
Além de compreender a tristeza ou a frustração de quem não é tão bonito ou bem sucedido na vida, eu aprendi, dia desses, que eu preciso me colocar no lugar de quem me exclui de seus sentimentos, tem preconceito comigo, ou mantém distância de mim por não ter as vivências que eu tenho. Quando se está, por alguma razão, fora dos padrões, isso se torna parte da vivência diária. O que eu não fazia com frequência era perdoar quem fazia isso.
É fácil compreender as razões de quem não tem recursos quando não se tem recursos; é compreensível que o amor dos "feios" é tão valioso quanto o amor dos belos quando não se faz parte do grupo dos belos. Mas entendemos como maldade aquele que, de alguma maneira, nos discrimina. Quem garante que não faríamos igual se estivéssemos no lugar do outro? Sim, é espetacular pessoas lindas fisicamente mas que não discriminam; pessoas ricas e de sucesso que ajudam os que precisam. No entanto, isso é um nível evolutivo que muitos de nós não alcançamos ainda. Viver é preciso!
Talvez não haja algo tão doloroso quanto se sentir rejeitado por quem tanto amamos e gostaríamos de ter por perto, não há nada tão humilhante quanto se sentir inferiorizado e discriminado. Mas é urgente que saiamos dessa sintonia amarga de vítima. É preciso buscar a transcendência. No fim das contas, se amamos mesmo ou se, pelo menos, entendemos que cada um está no melhor que pode, perceberemos que o perdão (a si mesmo e ao outro) é sempre o melhor exercício de empatia e de amor.


terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Natal!

O Amor é um sentimento que ensina todos os dias. É incrível! Achamos que já aprendemos, aí, de repente, surgem pessoas que nos colocam no limite de nós mesmos. Muitas e muitas vezes, o problema será nós em relação a nós, mas é fácil transferir isso para o outro. Buscamos no outro a aceitação de nós que ainda não alcançamos e, nessa busca, criamos personagens ideais daqueles que cruzam nosso caminho.
E como é doloroso perceber que o personagem não existe, que era apenas fruto de nossa imaginação e de nossa carência.
Muitas vezes, esquecemos que as pessoas são livres para serem quem realmente são e isso inclui serem totalmente o oposto do que imaginamos e fantasiamos acerca delas.
Ao mesmo tempo em que é triste, é libertador saber disso... As pessoas se revelam como são ou como nós interpretamos que sejam, mas é fato, também, que nossa interpretação pode estar errada.
Nesse processo de descoberta, tendemos a realocar os espaços que cada um ocupa em nosso coração ou mesmo, mandar embora, ou simplesmente nos afastamos...
O diferente também pode ocorrer: o outro pode não querer habitar nossa alma ou estar em nossa vida. É verdade que sobra um espaço enorme quando isso acontece, mas viver é respeitar as escolhas dos outros sem que isso nos faça sentir o pior ser humano do mundo.
Não há amor sem respeito; não há senso de humanidade que não respeite o direito de o outro estar no nível de pensar e sentir em que se encontra. Afinal, cada um tem sua história e o fato de, muitas vezes, nos ferirem sendo quem são não faz de ninguém menos honesto ou valioso do que é. 
Em relação a nós mesmos, a escolha é sempre nossa.
Sejamos, portanto, honestos com nossa própria consciência, com nossos sentimentos. Eduquemos nosso ego e aprendamos que todos são falhos e ninguém, por mais que desejemos, conseguirá ser "o ideal". Somos seres reais e em processo de melhoria, cada um no seu ritmo, cada um na sua sintonia.
Pessoas muito amadas de nosso coração podem nos desprezar e nos negar um abraço, aqueles a quem queremos tanto a presença podem querer nossa distância e vale muita coisa para conquistar essa presença, menos ferir os propósitos de nossa consciência, menos nos humilhar. Amemos, primeiro a nós mesmos ou não estaremos amando ninguém.
Ajustemo-nos, equilibremo-nos, mas acima de tudo cultivamos nosso amor-próprio e respeitemos nossos limites bem como os limites de nosso sentir. Não raro, "perder é ganhar", e a aparente desgraça pode ser uma bênção.
Que o Cristo-Verbo da verdade divina nasça em nossa alma e que nasçamos junto d'Ele como um novo ser que brota de si mesmo para a construção de um mundo melhor.

Feliz Natal!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Eu sei

Eu sei que por maiores que sejam as minhas alegrias e por mais intensas que sejam as minhas dores, elas são apenas minhas. A ninguém mais cabe sentir o que é meu. E isso tem algo de tão particular e exclusivo que, se por um lado é minha liberdade é, também, minha solidão.
Eu sei que eu só estou pensando nisso porque agora, assim de repente, me bateu uma tristeza imensa, por uma razão que apesar de muitos entenderem, ninguém pode fazer coisa alguma. Eu sei também, que isso só acontece porque o que a gente queria ter como nosso são as alegrias. As coisas ruins nós gostaríamos de poder não precisar aceitar ou ter o poder de rejeitar. 
Eu sei que mesmo essa sendo a melhor versão de mim eu ainda tenho muito a perder para aprender a valorizar. Eu sei que por mais que algo em mim diga que isso tudo é injusto, se acontece é por uma razão, ou por várias. Eu sei que não existem coisas erradas no universo e que se há um grande erro, ele está na minha maneira de ver e conduzir as coisas.
Eu sei que eu preciso aprender a transcender, a viver por esse propósito, que está além deste momento de agora, dessa fase da minha vida e talvez da própria vida. Eu sei que posso estar sendo negativa demais, mas há certas coisas que me fariam tão feliz que desconfio que jamais vou conquistá-las, porque eu também sei que talvez meu espírito ainda não as mereça.
Eu sei que quanto mais forte eu for, maiores serão os desafios... porque os desafios são do tamanho da força que temos, mesmo que ainda não saibamos onde essa força está. 
Por eu ser como sou, por dentro e por fora, eu sei que ainda vou perder muitas coisas e afastar muitas pessoas. Vou ver outra pessoa recebendo o carinho que eu queria receber de quem eu queria receber e não vou poder fazer nada, porque por mais que isso me doa, essa dor é só minha; Vou ver talentos que tenho fazendo sucesso em outras pessoas, que os merecem e os manejam melhor que eu; Poderei não ver sonhos que acalentei sendo realizados porque fiz as escolhas erradas ou em grau de acerto menor. 
Mas eu sei que no final das contas, o saldo negativo poderá ser positivo, porque eu vou aprender alguma coisa com tudo isso. 
Eu sei que isso é só uma fase e que os desafios da próxima podem ser ainda maiores. Porque eu sei que eu aguento. Porque em vez de perguntar "por quê?", eu estou aprendendo a perguntar "por que não?"

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Eu te amo! Mas até quando?

Certa vez, me disseram: "O amor não resiste à falta de admiração". O assunto eram crises e términos de  relacionamentos e a pessoa me dizia que deixou de amar quando percebeu que não admirava mais a outra. De certa maneira, eu concordei, afinal os relacionamentos - não necessariamente namoro ou relação conjugal - não abrem mão de admiração, confiança, carinho, e uma série de outras sensações e sentimentos cuja ausência tornaria insuportável manter a pessoa por perto. Não dá para ser amigo, cônjuge ou parceiro(a) de alguém em quem não se confia ou cuja presença é desagradável, por exemplo.
No entanto, é necessário reconhecer que todos temos limitações e defeitos e que da mesma maneira que não vamos admirar o outro em tudo, também não seremos tão admirados em tudo e mesmo assim, continuaremos queridos por alguns indivíduos. 
Costumo ser muito observadora e algumas coisas me chamam a atenção. Em relação a um casal, ao perceber, à certa distância, o comportamento do homem e pelo pouco que conheci da mulher, percebi que ela é não apenas o ponto de equilíbrio da relação em muitos sentidos, mas o ponto de sustentação. Não só por ser mulher, mas por ser uma pessoa equilibrada, altiva, responsável. 
Ao constatar isso, veio-me a recordação da frase a mim dita no passado: "O amor não resiste à falta de admiração". Concordei e me perguntei por que aquela mulher continuava com aquele homem... Sim, porque admiração não poderia ser. Não havia nele o que ser admirado. É um poço de problemas de naturezas diversas. Resistiria o amor a tantas fragilidades e limitações do outro? Esqueci minhas próprias vivências, ampliei a admiração por aquela mulher e continuei acreditando que perder a admiração pelo outro é, no mínimo, o primeiro passo para deixar de amar.
Era fácil eu manter essa opinião, pois eu não me via amando ou apaixonada e minha maneira de pensar o amor era diferente de hoje. Passei então a conjeturar sobre algumas pessoas que acredito e afirmo amar, e veio-me a reflexão, "até quando eu amaria?" É indubitavelmente fácil dizer que ama a quem se admira, porque isso é ganho próprio talvez até mais do que para o outro. Esvaziei, então, uma dessas pessoas dos títulos e de tudo que eu acredito acerca dela e pensei: Eu continuaria amando se essa pessoa deixasse de ser, diante dos meus olhos, o que eu acredito que ela seja? Daí, notei que o sentimento mudaria. Se não houvesse admiração, restaria carinho; Se houvesse limitações, eu não sei como, mas facilitaria a sua vida de alguma maneira; não houvesse beleza física,  continuaria havendo alma e haveria a chance de amar de maneira mais original; não houvesse mais oportunidades de palavras, haveria o olhar e não havendo o olhar, poderia haver o toque, o aconchego junto ao coração; Se não há a presença, fica uma ligação sincera, uma torcida honesta e fiel para tudo corra bem e a disposição de ir buscá-la onde quer que esteja, caso precise de mim.
É claro que a gente não precisa se transformar em mártir das próprias emoções nem das outras pessoas, por isso, às vezes, a maior prova de amor é não aceitar mais certas coisas, é se distanciar um pouco, é buscar com sinceridade ser respeitoso(a) com o direito que o outro tem de falhar. (Mas isso é assunto para outro texto) Porém, tudo isso ocorre porque se é amor não precisa de admiração, porque quem ama de verdade se doa e se transforma nesse ato de doação. Porque quando eu digo que eu amo alguém, eu não me refiro à pessoa, mas a mim mesma, ao que eu sou capaz de sentir e fazer em nome desse sentir. Porque amar não diz respeito ao que os outros são para nós, mas ao que nós somos capazes de ser para o outro.  Porque ainda somos imperfeitos para amar com pureza...

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Desculpe, eu existo!

As pessoas podem ser muito cruéis e muitas delas o serão, no mais das vezes, contra aqueles e aquelas que não lhes oferecem risco de se defender. Talvez por isso, idosos, crianças, animais e pessoas com algum tipo de limitação tendem a ser tão vítimas dos variados tipos de violência. A história de hoje é de uma menina, hoje mulher, mas cujas memórias fazem-na sentir que a criança do passado ainda habita em si. Provavelmente, ela é só mais uma em meio de milhares de outros seres que passaram e passam por coisa parecida. 
Palavras... Palavras curam, certa vez ela ouviu dizer. Mas palavras também matam, adoecem. Palavas, em suma, têm poder. Ao longo de indefinidos anos, uma ideia ganhou corpo e vida própria no imaginário de nossa personagem central. "Crianças não esquecem. Mesmo depois que se torna adulta, o que uma pessoa ouviu na infância vai acompanhá-la", salvando-a, condenando-a, salvando-a mesmo quando a intenção de quem disse o que foi dito era condená-la. O fato é que se as palavras têm poder, a memória guarda as palavras e faz com que germinem algo que talvez a pessoa não perceba ou não saiba controlar.
E foi assim, sem perceber, que volta e meia ela repetia: "As pessoas deveriam ter mais cuidado com o dizem a uma criança. As pessoas esquecem que as crianças crescem, que se tornam adultas." Um belo dia, a terapeuta perguntou por que ela repetia tanto essa frase. "Oh, que frase?" Ela nem percebia... Dando-se conta, finalmente ela se permitiu chorar, chorar muito, sem dizer mais nada.
"Ah, você foi fruto de um erro, não foi planejada." "Se tivesse morrido depois de batizada, não faria a menor falta". "Se sua mãe tivesse morrido no parto, eu nunca te criaria". "Coitada, nunca vai ser bonita como as outras da família". É certo que quem proferiu essas frases não tinha noção do poder delas e é bem provável que não tenham feito por maldade consciente. Houve coisas piores. Sílabas, gestos, ações, que passariam totalmente imperceptíveis e, portanto, não teriam como ser denunciadas a quem quer que fosse.
O fato é que desde cedo, ela aprendeu que sua existência incomodava, que seu cabelo era feio, que seu corpo era horrível e que sua existência era um erro. Por mais que trabalhasse, era sempre a preguiçosa, o que ela fazia nunca estava bem feito. Sempre a criticavam, sempre a denegriam. Desde cedo, percebeu que ser imperceptível era a única maneira de incomodar menos. Os risos jocosos das primas bonitinhas e sempre elogiadas pelos adultos, bem como os próprios adultos, na maneira como a tratavam, faziam-na perceber que era incômodo tê-la por perto. 
Criou, então, um mundo paralelo, onde não incomodava ninguém, onde era aceita. Desenvolveu o hábito de olhar-se no espelho e, por diversas vezes, afogava-se no próprio olhar numa procura desesperada por si mesma. Na verdade, ela não se achava feia nem errada a sua existência e, no intuito de não perder o pouco de si mesma que volta e meia identificava como belo, desligava-se dos outros, e assim, aprendeu a ser só. Percebeu, não sabe exatamente quando, que tinha habilidades que aos outros faltavam e que isso, muitas vezes, fazia com que a tratassem bem. Contudo, notou, também, que o faziam por puro interesse. 
Certa vez, ela, ainda criança, não sofreou a revolta e disse a uma pessoa muito próxima: "Mude ou você será muito infeliz! Você não gosta de mim, só me trata bem porque sabe que vai ter vantagem. Você é sempre assim, só faz um favor quando pode receber dois em troca". Falou isso com medo de apanhar, afinal estava sendo muito petulante, mas o que viu foram muitas lágrimas da outra pessoa, que se dizia injustiçada. Ela não se comoveu e, aos poucos, desenvolveu certa agressividade. 
Muitos anos se passaram. Da agressividade de antes, mal restam as sombras. Numa mesma vida, ela já morreu e nasceu muitas vezes e sabe que a cada vez está um pouquinho diferente. Ela ama com o mais profundo da alma, tem descoberto tantas formas bonitas de amar e sabe que o Universo, de alguma maneira ou de muitas, conspira para que se torne alguém melhor. Mas algo triste sobrevive: Ela nunca se livrou do medo de incomodar aqueles que habitam sua alma. Ainda vive o misto de se esconder e se mostrar, de se calar quando queria se revelar ou de se arrepender quando se revela. É isso, algumas coisas tatuadas na alma de uma criança nunce se perdem.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Foi só uma coincidência...

Loucura mesmo é achar que a vida é um barco à deriva e que as coisas ocorrem por acaso, que pessoas cruzam a nossa a vida de diferentes maneiras por pura coincidência e sem razão maior. Fosse assim não aprenderíamos coisa alguma com o que nos acontece. Claro, existem pessoas que realmente não aprendem, mas essas são um caso à parte.
Imagina só que neste mundo existem hoje mais de 7 bilhões de pessoas, que eu nasci e passei quase duas décadas e meia da minha vida num lugar que jamais, por mera força do acaso, me levaria a estar onde estou neste exato momento e tendo na minha vida as pessoas que tenho agora. Em um outro momento, em lugares muuuuito distantes de onde eu estava, nasciam pessoas que se tornariam tão importantes para mim, que já me ensinaram tanto, por quem eu me colocaria em situações de risco até, só para não vê-las sofrer. 
Imaginemos nós que não seríamos exatamente como somos agora se essas pessoas não existissem, e que uma despedida delas faria nossa alma sangrar, visto que suas existências estão tatuadas em nossa história de vida...
É loucura! É loucura acreditar no acaso. É loucura acreditar que vindos de lugares tão improváveis e, muitas vezes, em situações tão bizarras, alguns seres se transformariam em nosso girassol. Há algum tempo, se alguém me dissesse que eu estaria onde e como estou hoje eu soltaria uma gargalhada; Se nos momentos de angústia por uma decepção amorosa, alguém me dissesse que eu amaria novamente eu diria que era calúnia, pois havia aprendido a lição. Se há algum tempo, alguém me dissesse que eu encontraria as pessoas que encontrei, vindo elas de onde e como vieram, eu acharia que era o roteiro de um filme de ficção científica... e por fim, se há algum tempo, alguém me dissesse que eu amaria como e quem eu amo hoje, eu simplesmente, não entenderia.
Porque não é acaso, não são coincidências. É nosso programa de vida nos ensinando a cada dia a sermos um pouco melhores, (ou menos piores); é nossa rota de existência nos apresentando quem ficará em nossa alma mesmo que decida ir embora de nossa vida; é a expressão pura de Deus que se faz em nosso caminho e em cada pedra que há nele nos mostrando que não se segue sem amar, não se caminha sem Amor e que entre os 7 bilhões de pessoas que existem nesse mundo, há algumas que , independente de como estejam ou o que façam, queremos tão perto que sabemos que o ideal é deixá-las livres só para corrermos o risco de ter a satisfação de abraçá-las e sentir o coração bater junto ao nosso. 

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Liberdade

O amor e a vida precisam ser uma gaiola de portas abertas. Liberdade é a palavra-chave que abre todas as portas da própria consciência e do próprio coração. Passamos a vida inteira em busca de liberdade e o fato é que, quando nos deparamos com ela, percebemos que o que queríamos, de repente, não era liberdade, era só ego.
Nessa busca ilusória, visamos à liberdade para escolher, para decidir ir ou vir, quem fica e quem sai. Somos o centro de tudo. Nós decidimos. Isso é o nosso sonho imaturo de ser livre. No entanto, Liberdade mesmo é muito mais, pois não existe sem a responsabilidade e o compromisso com as próprias emoções e, mais ainda, com o dever de aceitar que o outro tem o mesmo direito que nós. No exercício dessa liberdade de escolher, muita coisa e muita gente vai ter que ficar de lado. Somos limitados demais para ter tudo. É egoísta demais querer ser importante para alguém só porque a pessoa é importante para nós. Porque os outros, no exercício de seu direito de escolha podem (e muitas vezes, vão) nos deixar de lado.
Escolher morar em uma cidade implica sair de outra; Muitas vezes, não vai dar para conciliar mais de um emprego ou função. Muitos amores nunca serão correspondidos e tudo isso é um pouco de nossa liberdade de sermos quem somos e de os outros serem quem são, de o mundo ser o que ele é. 
Liberdade para escolher, maturidade para arcar com as consequências das escolhas; Liberdade para amar, risco de nunca ser amado; Assumir responsabilidades, abrir mão de um sonho. Nossa alma é um poço infinito de sensações, sentimentos e segredos que, por mais que o mundo nunca conheça, nos definem em cada detalhe mais profundo de quem somos. 
Viver é uma aventura incrível! É preciso muita disposição para tudo isso; é necessário, é vital que essa disposição exista. Deixar abertas as portas das gaiolas da alma é muito mais doloroso do que pode parecer, mas também é nobre e maduro. E o mundo não precisa e, na maioria das vezes, nunca vai poder (nem deve) conhecer a extensão e profundidade disso para o nosso coração. Podemos estar sorrindo enquanto nossa alma sangra, porque os sonhos que acalentamos com tanto carinho talvez nunca se realizem, porque as pessoas que mais gostaríamos de ter por perto talvez só queiram descansar de nós, porque alguns enigmas só podem ser compartilhados entre nós e Deus.
Pode soar caótico, mas tudo isso são passos para frente. Tudo isso é liberdade.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Procura teu lugar, menina!

"Transcenda o ordinário. Renuncie ao extraordinário. Seja você mesmo(a): atreva-se a viver sua singularidade - ser original, ocupar "seu lugar" no "concerto das coisas", descobrindo o propósito de sua existência. Os seres sub-humanos (animais e vegetais) o sabem.

Benjamin Teixeira de Aguiar pelo espírito Temístocles.

Eis que no dia hoje cai uma chuvinha leve e descompromissada, como uma mensagem dos céus de que as minhas angústias serão levadas, minha alma será lavada e encontrará um aconchego de paz, que talvez signifique encontrar o meu lugar. Passei toda a infância e boa parte da vida adulta ouvindo e reproduzindo a frase do título: "procura teu lugar". Nem sempre com menção exclamativa, é claro. Em boa parte dos casos, a frase fazia parte de conselhos. Mas a questão de hoje é: o que isso significa?
Por razões que hoje eu não teria coragem de admitir para ninguém, acordei querendo ser outra pessoa, ou pior, eu acalentei no coração a vontade de que determinada pessoa não existisse... Percebi, depois, que o fato de essa pessoa existir ou não, não modificaria as coisas que ocorrem comigo. Eu me desloquei do meu lugar e está sendo doloroso reencontrar o caminho de volta. Entretanto, estou certa de que será preciso sangrar na abertura desse caminho, antes que eu sangre desesperada e inutilmente por não ter feito isso quando deveria.
Procurar nosso lugar no mundo talvez tenha a ver com viver realmente a própria vida, saboreando cada experiência única de aprender sem se colocar em comparação com os outros. Perdemos tanta energia lamentando o que não conquistamos, chorando o amor que não vivemos, a família que não construímos, o relacionamento que não conseguimos salvar, a paixão não correspondida, a casa não comprada, a viagem que não foi feita, o dinheiro que deixamos de poupar ou de ganhar (ihhh, a lista é infinita) que deixamos de valorizar o que conseguimos. Negligenciamos nossas qualidades. Somos cruéis com nós mesmos.
Na ânsia de sermos tão felizes como o outro - que por sinal nem sabemos se é feliz mesmo - deixamos de vivenciar e de valorizar nossas próprias lutas, nossas próprias conquistas. É preciso transcender, ir além de si mesmo, mas isso não significa querer ser o centro de tudo. Ser discreto é ser sábio. "Ah, mas isso pode significar nada para os outros". O que importa? Não é para os outros que tem que significar, é para nós mesmos. 
Nunca estamos satisfeitos. Isso é fato e nem sempre é ruim. É necessário querer mais, buscar sempre. No entanto, isso perde a validade se transformado em motivo de lamentação. As inquietações precisam ser molas propulsoras para frente, não motivos de autoflagelação. 
"Ah, mas eu perdi um ente querido..." Você estava feliz vendo essa pessoa sofrer? No mais, quem nunca perdeu alguém que atire a primeira pedra... "Não estou feliz na minha carreira profissional". Tem feito o que para mudar isso? "Não sou amado(a) como gostaria por determinada pessoa". Toda forma de amor é válida. Preferia nada? Ora, ora... deixemos de birra! Quem não consegue ser um bom amigo(a) não seria um bom companheiro(a).
Às vezes, procurar o nosso lugar pode nos quebrar inteiros por dentro...
Bancar o chateado(a), no entanto, não mudará as coisas, apenas garantirá uma rota de infelicidade gratuita e falta de aproveitamento da melhor maneira daquilo que a vida nos tem proporcionado, tantas e tantas vezes, tão além do que fazemos por merecer. Procura teu lugar no mundo e se isso te faz perceber que quebrou a cara... bem, junta os cacos e monta novo. Lembra que não pode jogar fora nenhum pedacinho, pois seria o mesmo que jogar a si mesmo(a) na lata de lixo. Junta tudo! Junta tudo e monta de novo e, de repente, você descobre que pode ser um quebra-cabeça bem divertido. Pode ser que seja preciso mais cola do que o normal, mas o importante é que será a sua melhor versão de todos os tempos.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

É só um pouco de tristeza

Temos uma percepção equivocada acerca de nós mesmos. Achamo-nos mais ou menos importantes do que somos, mais ou menos certos do que realmente estamos, mais ou menos inteligentes do que realmente somos e por aí vai...
Viver é uma busca constante por equilíbrio e essa conquista está, de alguma maneira relacionada àquilo que somos em relação a nós mesmos e aos outros. Há quem se diga feliz sozinho(a), há quem não queira se aceitar ou aceitar as coisas como estão, há quem não queira, em hipótese alguma, estar só... Tudo isso, a meu ver, diz pouco se não estamos conectados ao nosso próprio eixo, se desconhecemos quem somos e o que realmente nos faria felizes. (Refiro-me ao mais profundo de nós mesmos e não ao que esperam que sejamos ou façamos). O fato é que temos limites e precisamos admitir isso, primeiro para nós mesmos, depois para os outros.
É tão comum se ouvir falar em depressão, tristeza, insatisfação, frustração. O problema não é isso. O problema é que apesar disso, continuamos não sabendo lidar com a coisa quando ela nos atinge. E ninguém, absolutamente ninguém, está imune à tristeza. Não falo de uma tristeza qualquer, falo de TRISTEZA! Assim, com todas as letras maiúsculas. 
Sem querer, a gente perde o interesse de se arrumar, perde a vontade de sair de casa, já não importa mais se a casa está bagunçada ou se a roupa é a mesma da semana passada. Imperceptivelmente, tomar banho e usar algo mais arrumandinho se transforma em um sacrifício medonhho e as tarefas do dia a dia representam uma odisseia praticamente insuperável. 
Sobreviver com isso cercado de pessoas que não enxergam a dor é afundar numa solidão que palavra alguma consegue descrever e a única coisa que se quer é deitar. Deitar mesmo que a cama e o quarto estejam uma bagunça infinita, encolher-se em posição fetal e esquecer que o mundo existe.
Não há explicação para isso, especialmente quando se sabe que admitir isso é, para muitos, admitir que perdeu. É, também e pior que tudo, encarar olhares de pena ou de espanto, como se existisse uma certa proibição de falhar.
Isso é tudo de que uma pessoa deprimida não precisa. Então, não olhe com dó, como se a pessoa fosse quebrar. Ela já está, de alguma maneira, quebrada. Ela precisa se emendar e sentimentos de pena só pioram. Ela precisa ser resgatada de si mesma, fortalecida, não ignorada.
No geral, é como se a pessoa tivesse que chegar para o mundo e dizer: Perdi!
A descoberta desse estado de tristeza é aterradora e encarar pode doer mais por não acreditar que está ocorrendo consigo do que realmente pela gravidade da coisa. A primeira coisa que dizemos a nós é: Não pode ser! Comigo, não!
Quanto a mim, Eu estou triste... mas NÃO, EU NÃO PERDI! Eu só estou triste. Não estou frustrada, não estou infeliz, estou triste apenas. Cansada, talvez... . Estou triste de uma tristeza que por agora, me impede de ter a segurança de antes.
Sei que muitos também estão assim, mas por algum motivo, têm medo ou vergonha de falar. No entanto, é preciso coragem de admitir, de ter paciência consigo mesmo(a), de pedir ajuda, de conversar, de aceitar que está triste e inseguro(a) para então descobrir o caminho de volta a si, à própria essência. Contudo, não é o fim do mundo; não é o fim da vida, é só um degrau um pouco mais forçoso de subir.
Desculpem, meus amigos, porque, nesse processo, a gente muda... eu posso estar falando mais alto que o normal, eu posso estar puxando conversa de mais, eu posso não estar respondendo às mensagens como antes ou estar respondendo mais que o normal, eu posso atrasar os compromissos do trabalho além do normal (não é falta de compromisso)... Observem os sinais. Você mesmo(a)  ou alguém bem perto de você, pode estar precisando de ajuda. 
Observem os sinais!


A poesia de ser

A dicotomia poesia-poema nunca me pareceu suficientemente explicada nas academias. Sempre faltou algo no tocante à poesia e, por extensão, ao poeta. Descobri, numa tarde, enquanto ministrava aula de literatura e falava sobre Drummond, que os poetas sentem o mundo com o coração mais dolorido. Os poetas sofrem mais. Sofrem porque percebem o imperceptível aos olhos normais. Talvez, por isso mesmo, os poetas sejam vistos como loucos ou, pelo menos, não muito "normais".
Ser poeta é sentir. Só isso basta. 
Sentir o mundo.
Sentir as pessoas.
Sentir a si mesmo.
Sentir...
O poeta não vê números na guerra, vê vidas que se perdem, sente a dor, chora essa dor. O poeta ama... Fazer poesia é amar o outro e quando ama de paixão, transforma o ser amado em paisagem, possível de ser admirada por uma vida inteira sem cansar da imagem e tudo isso, mesmo vislumbrando um precipício logo adiante. O sentir é o que importa. Quem descobre a poesia de ser descobre que o Amor é a única essência, é a mais bela imagem, que pessoas podem ser paisagens vivas a se movimentar e seguir.
Fazer poesia é ser ridículo, como as ridículas cartas de amor referenciadas por Pessoa. Por isso, o poeta não vive, apenas, ele/ela sente o mundo, sente as pessoas do mundo. 
Esse sentir silencioso, pouco compreendido, desperdiçado dispensa explicações. Apenas É.
Ah... Bem-aventurados os poetas e poetisas do mundo, que vivem a desventura gratuita de não serem compreendidos, de não serem amados, de não serem admirados e, ainda assim, continuarem sendo quem são.
Bem-aventurados os que veem o Amor e a Poesia em tudo: na flor que desabrocha;
Na criança que nasce;
Num animalzinho de rua;
No envelhecer de cada dia;
Numa palavra de gratidão ou num pedido de ajuda;
Na alma que se liberta e vai morar nas estrelas...
Bem-aventurados os que sabem ser a poesia lida, os que se tornam poesia mesmo sem saber... Bem-aventurados os que inspiram a poesia e se tornam paisagem aos olhos dos corações que poetizam...
Bem-aventurados os que livremente se permitem "prender", por puro querer, por puro sentir...

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Ilusões

A realidade é um soco no estômago de nossas ilusões. Não adianta se esquivar. É um soco que vem certeiro e não deixa sobrar coisa alguma do que cultivamos sem o alicerce sagrado da verdade.
É inútil esperar que assim não seja. É inútil mentir para si mesmo e racionalizar nossas ou atitudes alheias... porque... feito o ar que penetra os pulmões de um bebê que respira pela primeira vez fora do útero da mãe, a verdade nos rasga por dentro. Nos dilacera e, ao mesmo tempo, nos permite viver.
Não há como fugir da verdade de quem somos nem fechar os olhos para a verdade de quem são os outros, ao menos na versão que escolhermos conhecê-los.
A vida é movimento de idas e vindas, de chegadas e partidas que nos ensinam tudo o que estivermos dispostos a aprender, mas uma coisa é certa: cair é inevitável e não há fraqueza que, mais cedo ou mais tarde, não faceie nosso orgulho e, especialmente, nossas ilusões.
Ilusões são como cortina de fumaça. Dissipam-se tão facilmente quanto aparecem. Mas também, traiçoeiras e reveladoras: analise suas ilusões e descubra quais são seus defeitos, qualidades, sonhos, anseios, medos. Conheça suas ilusões e descubra sua própria alma. 
Com sua mentira inerente, nossas ilusões atiram nossas mentiras- que julgávamos tão escondidas -  em nossa face.
Descobri, com dor no coração, que as manifestações mais nobres e verdadeiras são as mais dolorosas. A verdade dói, o Amor dói, aprender dói.
Doem todos. Doem em tudo. Doem, mas curam, restauram, indicam o caminho certo que as ilusões escondem. E o caminho da realidade, é certo que, muitas vezes, não será o que gostaríamos que fosse. É possível que em vez de claro, seja nebuloso; em vez de aquecido seja frio e que, em vez de me permitir seguir acompanhada eu tenha que seguir sozinha.

domingo, 21 de outubro de 2018

Um chá de semancol

Algo errado não está certo. São muitas coisas que estão fora do lugar ou que simplesmente não existem. A começar pelo coração e pelo caráter de uma massa. 
Desde que me entendo por gente tenho contato com ódio de classes, falta de consciência de classe, discriminação. Algo está muito errado quando as pessoas acham que pobre não é gente, quando as pessoas têm vergonha de assumir de onde vieram e quando o fazem, são julgadas como vitimistas ou negativas. 
Esse ódio ao pobre e às possibilidades de ele galgar degraus em direção à superação das próprias dificuldades é a coisa mais bestial que existe. E eu sei a dor disso. E eu estou com muita raiva disso!
Esses dias, fui tristemente surpreendida com a observação de uma pessoa amiga. Segundo a pessoa, fui interpretada como alguém que se autodeprecia. Estou me lixando para o que acham de mim, mas vejo nessa interpretação de minhas ações um problema muito grave: alguém que se supera e que não tem vergonha de ser quem é alguém que se autodeprecia? O que sabem de mim para falarem uma merda dessas?
Olha só, vamos conversar sério aqui. Deixa eu te falar umas coisinhas... Vai ser só um resuminho...
Nasci numa maternidade, (a primeira da região, pois todos os partos naquela época eram feitos em casa e depois de mais de dois dias de contração, minha mãe ia morrer, então tomaram a atitude desesperada de levá-la à cidade). Imaginem a decepção: eu não era "perfeita". Vivi os primeiros anos da vida isolada numa área rural, cercada de muitas carências, ouvindo as mais perversas frases de preconceito, incluindo coisas do tipo: "se tivesse morrido depois de batizada (religião em primeiro lugar, né?) não faria a menor falta. Afinal não é perfeita."  Só nunca soube o que é carência de Amor. Tive e tenho o melhor pai e a melhor mãe do mundo, que independente de seus conflitos, sempre me amaram sem ressalvas. Até hoje, idosos e cansados, brigam com o mundo para me defender de uma maneira que ninguém mais faria. Eu sei que eles têm orgulho de mim e eu também tenho.
Sou feminista, defensora e protetora de animais, luto pela democracia, sou politizada, espiritualizada, responsável pelos meus atos. Sim, sou uma mulher forte da "poha" e, sim de novo, é um privilégio me ter por perto, porque eu nunca vou ver uma pessoa se ferrar sem fazer tudo que puder para salvá-la antes.
Eu sou a única sobrevivente de uma prole pequena. Sempre tive inteligência acima da média dos que me rodeavam e estou certa de que essa foi a única razão por que muitos me suportaram. Era conveniente me terem por perto. Já fui expulsa da casa de gente que se achava superior e que queria me "colonizar". Deixaria que me expulsassem outras mil vezes, mas não abro mão de minha dignidade.
Então, agora, aguentem. Não serei modesta!
Eu estudei, saí do mato e levei a família junto, fui a primeira daquela região a concluir o nível superior e o fiz com excelência, não sei o que é fazer um vestibular ou um concurso e não passar ou não atingir um ótimo resultado, embora não tenha o menor medo de fracassar. (Já fracassei em outros setores da vida) Sou uma boa profissional, com falhas, mas me garanto muito bem no que faço. 
Desconheço a sensação de tentar aprender algo e não conseguir. (Sei que mais cedo ou mais tarde ela virá, mas não tenho medo. Quebrar a cara é uma delícia. Afinal, a gente monta de novo e do jeito que quiser)

Tenho perto de mim os melhores. Poucos, mas os melhores. Nunca fiz questão de quantidade e continuo não fazendo.

O que chamam de autodepreciação é vitória, autoamor, autossuficiência. Então, se você ainda não venceu na vida, porque nem num vestibular passou ainda, ou está infeliz com as escolhas que fez, apesar de dispor de todas as regalias para garantir sucesso, não venha falar do que nem sabe que existe. Para de passar vergonha com esse seu ódio nojento de classes, que na verdade, só evidencia sua falta de capacidade de chegar onde cheguei.
"Ah, e por que ainda não está rica?", "Ah, isso é mimimi....", "Ah, já deveria ter feito ou conquistado tantas e tantas coisas." "Ah, deveria carregar mais na maquiagem"... e blá, blá, blá... Estou onde eu escolhi estar. Se as escolhas não estão certas, o problema é meu. Cuidem da vida de vocês.






quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Sobre a maternidade

Como muitas mulheres, sonhei ser mãe. A ideia de ter um filho sendo gerado dentro de mim e nascendo de mim germinou em meu coração e, especialmente em meus instintos por alguns anos. Depois, não sei há quanto tempo, abandonei a ideia e passei a fazer parte do grupo das que decidiram não querer ser mãe. 
Os julgamentos vieram e vêm todos os dias. "Como pode uma mulher não querer gerar um filho?" "Amargurada, criatura cheia de ódio. Somente isso justifica não querer ser mãe". Nunca foi isso. Entendam ou não, mas nunca foi isso. Descobri, não sei quando, que pessoas são sagradas demais para virem ao mundo de qualquer maneira e eu não quero ser responsável por tornar infelizes almas que, em algum momento e por algum tempo, dependeriam de mim. É preciso estrutura financeira, psicológica, espiritual para ser mãe. Não basta gerar!
Descobri, no entanto, e também não sei exatamente quando, que estaria fadada a ser mãe mesmo sem querer (sei que não no mesmo nível de intensidade que uma mãe,verdadeiramente) e pensando assim, percebo que a maternidade, bem como a honestidade, a loucura, ou qualquer outra manifestação humana, pode vir em níveis, e que gerar e parir é mais instinto e nem sempre vêm acompanhados da maternidade na dimensão espiritual de ser. Há muitas mães que abandonam seus filhos, que não abrem mão de certos privilégios em nome deles embora os tenham gerado e parido. 
Ser mãe é sofrer por não poder proteger, é ser escudo, é apanhar primeiro para amortecer a dor do outro, ou é sentir a alma estraçalhar por não poder fazer isso. Eu também não sei quando, mas tornei-me mãe em um nível que também desconheço e o percebo cada vez que sofro por não poder guardar de toda ordem de tristeza, dor e agressões aqueles a quem meu coração adotou. 
Como eu queria ser grande o suficiente para poder abraçar e proteger cada pessoa e cada ser que está, agora mas do que nunca, à mercê da violência, da ignorância, da morte, do abandono... Embora eu reconheça que também sou um desses seres que tanto necessitam desse amor e dessa proteção. Carregar esse sentimento é, ao mesmo tempo, reconhecer o quanto sou frágil e o quanto tantas coisas não dependem de mim... 
Lembro-me do Tempo, no filme Beleza oculta, ao consolar uma mulher desesperada para realizar o sonho de ser mãe: "Você será mãe de muitos filhos. Os filhos não precisam nascer de você para serem seus filhos. Eles só precisam passar pela sua vida".

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Sobre o passado, sobre os dias que correm

Assim, do nada, (talvez não tão do nada) bateu-me uma saudade imensa de escrever. Senti saudade da poesia que habitava meu coração em tempos passados. Eu escrevia melhor antigamente. Na verdade, acho mesmo é que eu sentia com mais poesia e literatura os sentimentos que permeavam meu coração. Daí você deve estar pensando "ah, então ela agora está uma pessoa amarga". Não,  não se trata de amargura, mas do tempo que passa e naturalmente leva um pouco de nós para lugares diversos, ao mesmo tempo em que revela um pouco mais de nós do que ousaríamos pensar que fosse capaz de existir.
Mas é verdade, eu acho que eu escrevia melhor antigamente... quando meus sentimentos eram diferentes dos de hoje, embora eu ache que os sentimentos de hoje sejam melhores que os do passado. Algo não mudou: continuo sendo uma péssima fingidora. Não consegui seguir os passos de Pessoa apesar de ser sua fã declarada. para mim, sentir é de verdade e não sei falar do que não sinto. 
E eu sinto muita saudade e eu tenho muito medo. Falar sobre medos e saudades não soa muito bem, não é bonito. Pode ser qualquer coisa, mas sentir medo não é bonito... nem poético. E eu não tenho quem me proteja desse medo, nem quem me guarde num abraço. E isso não é nada romântico nem belo. O medo é terror, destrói qualquer clima agradável.
Senti que pouco a pouco, a vida foi me tornando uma espécie de suporte para muita coisa, mas eu esqueci de construir um suporte para mim e ele agora me faz falta. Talvez, também, não tenha encontrado ninguém disposto a ser meu suporte...
Não se trata de fraqueza, eu sei que sou forte. Não estaria aqui se não fosse tão forte. Nenhum de nós teríamos chegado até aqui se fôssemos fracos ou pelo menos, se não tivéssemos um pouco de força, um pouquinho que fosse. No entanto, o fato é que eu não posso mais contar com meu pai porque ele está velho e doente, embora a menina que ele embalava e colocava para dormir ainda exista guardada dentro de mim. Ela está sozinha, tadinha... aprendeu a abafar o choro e a não reclamar, vestiu corpo de adulta, já apresenta rugas e os primeiros cabelos brancos, mãos de mulher madura, mas continua sendo a mesma menina. Só que hoje, talvez mais medrosa que antes... porque os tempos são sombrios e meu pai, bem... não posso mais contar como antes...
Desculpem, eu sei que já escrevi melhor... no passado, eu escrevia melhor... mas é que hoje é isso que eu sou...
Eu escrevia melhor quando estava apaixonada, quando tinha certeza de que sempre haveria liberdade para me expressar; eu escrevia melhor quando achava que podia mudar o mundo. Não duvido de poder o mundo, mas definitivamente, hoje sei que não posso mudá-lo como antes eu pensei que poderia... e hoje... bem, hoje eu sinto medo. Medo do que virá, medo de não ter um colo, medo de não ter um abraço, porque eu ainda sou aquela menina do passado, não obstante as expectativas de hoje sejam outras.
Hoje eu sinto medo porque apesar da poesia de envelhecer, eu ainda sou a menina cujo pai colocava para dormir, porque a humanidade é fria e isso entra em choque com o calor do meu coração tão cheio e tão vazio ao mesmo tempo. 
Desculpem... eu sei que já escrevi melhor...