Fragmentos de mim: Sobre o passado, sobre os dias que correm

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Sobre o passado, sobre os dias que correm

Assim, do nada, (talvez não tão do nada) bateu-me uma saudade imensa de escrever. Senti saudade da poesia que habitava meu coração em tempos passados. Eu escrevia melhor antigamente. Na verdade, acho mesmo é que eu sentia com mais poesia e literatura os sentimentos que permeavam meu coração. Daí você deve estar pensando "ah, então ela agora está uma pessoa amarga". Não,  não se trata de amargura, mas do tempo que passa e naturalmente leva um pouco de nós para lugares diversos, ao mesmo tempo em que revela um pouco mais de nós do que ousaríamos pensar que fosse capaz de existir.
Mas é verdade, eu acho que eu escrevia melhor antigamente... quando meus sentimentos eram diferentes dos de hoje, embora eu ache que os sentimentos de hoje sejam melhores que os do passado. Algo não mudou: continuo sendo uma péssima fingidora. Não consegui seguir os passos de Pessoa apesar de ser sua fã declarada. para mim, sentir é de verdade e não sei falar do que não sinto. 
E eu sinto muita saudade e eu tenho muito medo. Falar sobre medos e saudades não soa muito bem, não é bonito. Pode ser qualquer coisa, mas sentir medo não é bonito... nem poético. E eu não tenho quem me proteja desse medo, nem quem me guarde num abraço. E isso não é nada romântico nem belo. O medo é terror, destrói qualquer clima agradável.
Senti que pouco a pouco, a vida foi me tornando uma espécie de suporte para muita coisa, mas eu esqueci de construir um suporte para mim e ele agora me faz falta. Talvez, também, não tenha encontrado ninguém disposto a ser meu suporte...
Não se trata de fraqueza, eu sei que sou forte. Não estaria aqui se não fosse tão forte. Nenhum de nós teríamos chegado até aqui se fôssemos fracos ou pelo menos, se não tivéssemos um pouco de força, um pouquinho que fosse. No entanto, o fato é que eu não posso mais contar com meu pai porque ele está velho e doente, embora a menina que ele embalava e colocava para dormir ainda exista guardada dentro de mim. Ela está sozinha, tadinha... aprendeu a abafar o choro e a não reclamar, vestiu corpo de adulta, já apresenta rugas e os primeiros cabelos brancos, mãos de mulher madura, mas continua sendo a mesma menina. Só que hoje, talvez mais medrosa que antes... porque os tempos são sombrios e meu pai, bem... não posso mais contar como antes...
Desculpem, eu sei que já escrevi melhor... no passado, eu escrevia melhor... mas é que hoje é isso que eu sou...
Eu escrevia melhor quando estava apaixonada, quando tinha certeza de que sempre haveria liberdade para me expressar; eu escrevia melhor quando achava que podia mudar o mundo. Não duvido de poder o mundo, mas definitivamente, hoje sei que não posso mudá-lo como antes eu pensei que poderia... e hoje... bem, hoje eu sinto medo. Medo do que virá, medo de não ter um colo, medo de não ter um abraço, porque eu ainda sou aquela menina do passado, não obstante as expectativas de hoje sejam outras.
Hoje eu sinto medo porque apesar da poesia de envelhecer, eu ainda sou a menina cujo pai colocava para dormir, porque a humanidade é fria e isso entra em choque com o calor do meu coração tão cheio e tão vazio ao mesmo tempo. 
Desculpem... eu sei que já escrevi melhor... 


Um comentário:

  1. Estava com saudade de ler, lembrei de você e decidi passar em seus fragmentos. Não poderia ter escolhido lugar melhor para matar minha saudade das poesias da vida. Pude sentir cada palavra e perceber como são belas, embora não felizes.
    Minha alma agradece suas palavras, minha querida!

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