Fragmentos de mim: janeiro 2020

domingo, 5 de janeiro de 2020

Fé e felicidade

"A felicidade não é só seu direito, é seu dever ser feliz".
Espírito Eugênia-Aspásia

É certo que a humanidade tem mudado seus hábitos. Vida mais corrida, dinâmica, tecnologias por todos os lados e, no rol dos comportamentos, tudo é tendência, técnica. A palavra da vez é: facilidade.
Qualquer evento ou fenômeno que não seja fácil e prático é visto como inútil. É fato que algumas ações no dia a dia precisam, e mesmo devem, ser facilitadas. É o curso natural das coisas. No entanto, quando o assunto é o nosso sentir isso não se encaixa. 
Incluo aí todos os "sentires". Do amor próprio à empatia, à compaixão, à autoconsciência e, por que não, à fé. É triste que a busca por tanta velocidade e praticidade tenha esvaziado muitas pessoas de sua essência. Afinal, fomos programados para a fé, fomos programados para transcender, e desprezar isso talvez seja a razão maior dessa onda toda de depressão, maldade, e infelicidade que dilacera tantos corações.
Quando me refiro à fé, não me refiro a crendices tolas ou dogmas castradores que fundamentam muitos preconceitos e destroem vidas e a esperança de tantas pessoas. Minha fé não passa por dogmas nem por exigências tolas de minha parte segundo as quais, se Deus existe eu não deveria passar por problemas. Isso é, no mínimo, cínico e prova da mais grotesca falta de inteligência e capacidade de sentir. 
Uma das consequências mais devastadoras do excesso de praticidade é a falta de inteligência, ou seja, a pessoa se torna demente e deixa de desenvolver potencialidades mentais, físicas e intelectuais básicas. Se no campo da humanidade assim é que se estabelecem as coisas, por que com Deus as pessoas impõem que ou é como elas querem ou Ele/Ela não existe?
Fé é construção íntima, única, pessoal e intransferível porque cada um tem suas necessidades e potencialidades com exclusividade. É complexa e traz consigo o presente da paz de consciência.

Logo, Deus não é nosso empregado nem nossa babá, tampouco, fé é informação. Se assim fosse, não haveria intelectuais ateus. Fé é sentir. É um nível de raciocínio superior que nos torna capazes de compreender que, por mais que as coisas não saiam como gostaríamos, tudo está certo, porque tudo é supraordenado por Quem entende e conhece todos os eventos e seus possíveis desdobramentos futuros e que, por isso, o faz de modo a propiciar o Bem a um número maior de seres num nível mais profundo possível.
Ter fé não é desacreditar da ciência. É perceber que Deus também inspira a ciência e que não está interessado se as pessoas acreditam ou não n'Ele/n'Ela. Acredito que a primeira lição que preciso aprender diariamente sobre ter fé e a de admitir que Deus é alguém muito melhor que eu e que não está preocupado(a) em me provar coisa alguma. Deus, nas palavras de Jesus, simplesmente É. Sim... Eu preciso aprender, porque não é crendice cega, é raciocínio, inteligência, progresso. E isso não se faz às cegas.
Por isso mesmo, para que possamos nos colocar à disposição de termos fé, é preciso nos desarmarmos, reconhecermos que nem tudo será rápido e prático e trocar, com urgência, as lentes do olhar de nossa consciência, de nossa subjetividade. 
Não se mergulha nas águas cristalinas da fé quando se está torpe pelas tintas escuras e tóxicas do ego. É não impor condições a Deus e é reconhecer que Ele/Ela está no comando, simplesmente porque sabe o que está fazendo. Ter fé deixar de agir como criança esperneando nos corredores de lojas e supermercados, e se permitir os verdadeiros Saltos Quânticos de nossa consciência. Não há outro caminho. Aceitemos ou não, acreditemos ou não. É ter fé ou não ser feliz.