Fragmentos de mim: março 2014

quinta-feira, 13 de março de 2014

Só de passagem

Só de passagem eu vi tantas coisas e nada deixei gravar,
Só de passagem vi as cores que a vida me ensinou a pintar,
Só de passagem vi amores que, um dia, sonhei ficar,
Só de passagem, tantos se foram, e eu aqui, ainda, a sonhar...

A vida é voz que não precisa falar,
Só de passagem por ela é possível ficar,
Numa palavra dita, num olhar que brilhou, num toque rápido de mãos
Que mesmo, só de passagem, deixou um perfume, tatuou uma imagem.

Se tudo é só uma passagem por onde deslizo no portal do tempo,
Por que tanta coisa ficou?
Que alma é essa que não pára?
Que grito é esse, que não cala?
Que ferida é essa que não sara?

Por que, só de passagem, feriu e a ferida não passou?
Porque é preciso que se deixe, deixe que passe...
Jamais passa aquilo que se prende,
Jamais sara a ferida contemplada,
Jamais cura a mágoa recordada...

Então deixa, deixa que a poeira do tempo apague o brilho cruel da dor,
Deixa que as cinzas do esquecimento tornem opacas as forças do grito,
Deixa que murchem as flores e delas se apague a cor,
Que lhes caiam as pétalas feito vida que se esvai,
Deixa na memória apenas a lembrança doce, do perfume que tiveram...