Fragmentos de mim: março 2012

quinta-feira, 29 de março de 2012

Declaração de Amor

Poesia não é trabalho árduo,
Apenas flui leve, doce, dorida
Como lágrima da alma que chora
À face que molha,
Como sangue que brota
de ferida invisível da alma.

Poesia é como o suor que molha o corpo,
É brisa que acaricia a face amada
Como um toque à pele do amor distante.
Poesia é sentir vida, é sofrer por estar vivo,
Louvar a vida.

Poesia é dimensão metafísica,
Visão da alma que não somente enxerga, sente.
É o amor supremo que não exige um corpo,
É o puro amor que a palavra não diz,
Mas que pulsa no corpo.

domingo, 25 de março de 2012

Leva-se algum tempo...

Leva-se um tempo até descobrir que a vida, um dia, acaba
Que o grande amor de sua vida pode não aparecer ou podem ser muitos
Que os sonhos de um dia podem não realizar-se e, mesmo assim,
A vida pode ter sentido.

Leva-se um tempo até perceber que o vício não grita que é vício
Que a mentira pode ter pernas longas,
Que o diabo nem é tão feio e até seduz...
Que a mágoa só faz mal a quem sente
E, que a força disso está em não gritar quem são.

Leva-se um bom tempo até sarar as feridas,
Esquecer-se das dores e voltar a enxergar na vida, flores...
Pode-se levar muito, muito tempo até descobrir que o Amor é nobre
Que para amar não é preciso estar perto ou mesmo, ser amado,
Que sonhos confundem-se com ilusões e que a vaidade mata.

Ah, leva-se um bom tempo, talvez uma vida,
Até descobrir que quem se foi, na verdade permanece,
Talvez mais perto que antes,
Que os erros também partiram de nós
E quem nem todos estão dispostos a sacrifícios...

Que um "eu te amo" pode ofender, afastar
Que nossos fantasmas são somente nossos,
Que nossas palavras também podem ferir,
E que raramente somos vítimas

Leva-se sempre muito tempo até perceber quem se é
E que nosso "eu" possui imagem invisível,
Palpável, no entanto.
Que apesar de nossas, as palavras traem,
Que há coisas que ainda não aprendemos, apesar das teorias

E que há coisas que apenas levam tempo,
Muito tempo... para ser sentidas.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Existir não existindo

Se com os olhos do corpo, vejo,
Com os da alma, vejo mais.
Com uma visão que não tem cor, mas tem calor,
Tem o som das sensações que os sentidos que não possuem.

Se com o corpo posso aquecer,
Com a alma, aqueço mais
Com um calor que não precisa de toque pra existir, basta sentir.
Tem o calor que a alma sente e exala feito perfume e que o corpo não possui.

Se com a boca, sorrio
Com meu semblante, sorrio mais.
Não com um sorriso que pode ser forçado, não por gargalhar...
Mas com um sorriso de alma que somente uma face em paz executa
Leve e sem som.

Se com as palavras, falo o que sinto
Em silêncio, falo mais, muito mais...
Um falar sincero, meu e que não precisa mentir
Um falar dirigido a poucos, ou a todos...

A todos os que sabem enxergar além dos olhos,
Sentir-se aquecido na solidão,
Aos que aprenderam a ler um semblante
E a ouvir o silêncio...

E assim, posso existir, mesmo não existindo.

sábado, 17 de março de 2012

Tão somente... envelhecer...

Envelheço quando perco a pressa de fazer as coisas,
Quando as rugas, tão temidas no passado, orgulham-me,
Quando o Amor não é somente carnal,
Quando a beleza não é mais estética,mas poética.

Envelheço quando os dias não são somente dias,
mas são meus, meus dias, minha vida, meu momento.
Envelheço quando me vejo inútil diante do tempo,
Quando descubro a força que me exige ser manso,
O esforço que me cobra ser sereno,
Quando sinto o peso de ser leve.

Amadureço quando os elogios são temidos e as críticas,
Ah... elas são os degraus mais firmes,
Sustentam minha caminhada rumo a mim,
Refletem, sem medo ou vergonha, a minha imagem,
Livram-me da prisão da culpa por ter errado.

Minha liberdade parte de mim,
Meu perdão me liberta de meu julgo
E os outros se vão...retornarão ou não.
Conserto meus erros quando me descubro,
E alço voo pleno rumo a mim,

Vivo em plenitude quando envelheço,
Não envelheço quando amadureço,
Eternizo-me em mim, no mundo,
Sou essência, sumo.
Vida que vibra quando me assumo.
Tão somente, eu.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Tênue e forte

Há momentos em que a poesia, como em um passe de mágica, desaparece e as palavras mostram o quanto são inúteis sem a essência de um sentir. ah, que sentir é esse que faz dos humanos tão diferentes? Que alma é essa que contém os vivos de tal modo a sentir um vazio infinito se não a cultiva?
Mistérios, meu caro, indecifráveis mistérios. Cabe-nos viver apenas e viver apoiados no não saber o que virá, mas apenas sentir a dor e amor que há. Sentir o nada, tentar fazer algo para reverter ou fazer nada... Viver também pode ser esperar porque, às vezes a ação atrapalha e há coisas que são tão tênues que um simples toque as rompe. 
Não seria o forte melhor? Não se considerarmos que o tênue não é frágil, mas apenas tênue. Coisas assim devem ser assim tocadas, assim guardadas, assim cuidadas, assim preservadas... É também forte ser delicado, senão a maior das forças. É também forte guardar certas verdades: Verdades ditas em momentos inoportunos não passam mentiras, meras mentiras... É também ser forte tocar o tênue sem rompê-lo ou simplesmente, não tocá-lo embora os instintos nos impulsione a fazê-lo... 
É ser forte olhar-se diante do espelho e, sem maquiagem, encarar o reflexo de si mesmo, sem buscar culpas ou atribuí-la a alguém. É ser forte não ouvir, não enxergar, mas sentir...
Há momentos em que a poesia volta... sorrateira e tênue como a brisa: invisível, mas perceptível.