Fragmentos de mim: outubro 2011

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

As Primaveras do Futuro

Às vezes, abrir os olhos significa perceber-se completamente cego. É como se o mundo e as coisas que há nele buscassem mostrar o quanto é imenso o contraste entre ele e nós, meros seres de efêmera existência. É como se estivéssemos nus diante de tudo e, especialmente, diante de nós mesmos e buscássemos ardorosamente nos cobrir, nos corrigir. Sentimo-nos cegos, frágeis e tão pequenos que, imperceptivelmente crescemos, brotamos como um botão discreto que em um dia, do nada, aparece em forma de bela flor.
Entretanto, as ilusões passam, as alegrias perdem o sabor e a rosa, assim como em um belo dia desabrochou, em outro, perde seu perfume e suas pétalas. Mas a primavera volta e, com ela, novas flores virão dotadas com a sabedoria do passado e com a beleza do presente.
Difícil é acreditar nisso quando a única coisa que se enxerga são os escombros do coração, ao sentir a dor de um ferimento invisível e nem por isso menos concreto. Resta, às vezes, não mais a esperança, mas a certeza de que o tempo - com sua lentidão e sabedoria - tudo cura, tudo sara, tudo conserta.
Ah, felicidade, és tão próxima e tão distante! Há uma barreira tão ínfima entre você e a lágrima, uma barreira tão transparente quanto cristal que nos torna capazes de te ver de forma tão nítida a ponto de acreditarmos ser possível tocá-la.
Jamais a tocarão, contudo, aqueles que acreditam que não a alcançarão, pois felicidade é fruto da sabedoria que somente o amor constrói ao preencher o interior de cada ser vivente. Pois é a partir de dentro que se vive, é a partir de dentro que se ama e é partindo do interior mais indecifrável que se é feliz, até mesmo quando se deixa cair uma lágrima.