Fragmentos de mim: julho 2011

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O avesso de mim

Sou um ser cujos quereres revelam-me a alma, 
Gritam em silêncio de palavras, 
Fazem-me sucumbir...
Sou um ser cujos desejos me movem,
Esquentam-me a pele,
Revelam-me o viver.
Sou um ser cujos sonhos não morrem,
Me movem,
Corroem...
Sou um ser cujo Amor me Guia,
A lágrima me lava,
A alma se eleva...
Sou um ser concreto de tão abstrato,
Cruel de tão amável,
Violento de tanto amar...
Sou um ser louco de tanto querer,
Feliz de tanto sofrer,
Parado de tanto correr...
Sou alguém que é vivo de tanto morrer,
Calado de tanto gritar...
Sou avesso de mim.

domingo, 24 de julho de 2011

Silêncio...

"É fácil trocar palavras, difícil é interpretar o silêncio." Fernando Pessoa

Escrevo este texto num dia em que as palavras me faltam. Sendo assim, vou chamá-lo silêncio que por ser tão plural ao materializar o nada, se torna difícil de ser interpretado. Mesmo Fernando Pessoa viu-se rendido ao poder da ausência das palavras. 

Assim como pode representar a paz, ele também pode aprisionar. Difícil mesmo é saber quando representa força ou apatia, luta ou desistência, ou mesmo, dúvida, confusão, cautela, tranquilidade ou morte. Dos mais nobres aos mais covardes, o silêncio pode ser uma atitude característica.

Em dimensões diferentes, acredito que o silêncio pode ser comparado ao tempo... Ambos são poderosos, ensinam sem nada dizer, são misteriosos e mais fortes que qualquer dor ou alegria. Enfim, somente o tempo é capaz de explicar sua incógnita característica.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Hoje...

Hoje não estou para amores,
Não estou para dores
E meu coração está em paz...

Hoje, só por hoje, parei de flutuar no sonho
Pisei os pés no solo da realidade...
Pude senti-lo como há muito não fazia...

Hoje, surpreendi-me a perceber a saudade que tinha de pisar no chão
Sentir essa paz que me causa andar pelo solo da vida.
Senti que o ar que respiro me pertence,
Ao menos hoje...

Hoje não estou pra flores,
Nem pra cantos
Nem pra mantos de dor...
Hoje não estou para ninguém.

Hoje, somente por hoje, não pedirei que não me deixem,
Não deixarei que se queixem,
Não implorarei que me amem,
Não sentirei medo de estar só.

Hoje e não sei por quanto tempo, eu sou,
Eu vivo, respiro, sinto...
Hoje não sou de ninguém e sou tudo.
Hoje eu não tenho nada e possuo o mundo.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Sementes e frutos

Certo dia, recebi da vida algumas sementes. Disseram-me que eram mágicas, pois os frutos que delas brotariam iria depender da maneira como eu as cultivasse. Recebi também um simplório manual de instruções, no qual poderia ver algumas formas de não tornar as sementes capazes de gerar frutos que eu não desejasse.
Li apressadamente o manual e pus-me a cultivar as sementes. 

O tempo passou e alguns frutos logo brotaram. Reguei muito as sementes. Cuidei delas pra que nada de errado pudesse ocorrer. Entretanto, em minha pressa na leitura do manual e graças a alguns vícios que adquiri na vida, nem tudo saiu como eu esperava.

Algumas sementes, justo aquelas a quem dispensei uma atenção redobrada começaram a dar mais trabalho que de costume. Comecei a me preocupar com elas. Achei que com atenção em demasia eu as fazia bem. Passei a regá-las não com água, mas com lágrimas. O problema, no entanto, apenas crescia. Os frutos destas sementes foram devastadores: Plantei-as no intuito de colher amor, ao invés disso, colhi tristeza e dor.

Como era difícil lidar com elas. Cresciam em demasia, pesavam muito e tomavam todos os espaços existentes em minha vida. Tanto que acabei desprezando - por falta de tempo e espaço em minha vida - as sementes do respeito, da dignidade - Nossa, essa eu joguei no lixo, coitada - da amizade, do carinho. Todas essas ficaram de lado, mas por serem fortes e nobres continuaram a se desenvolver apesar de meu injusto abandono.

Carregar a dor e a tristeza que havia planejado pra serem amor e felicidade me feria. Eu sangrava por meio de minha alma, todo o meu ser era ferida. Minhas mãos tremiam, meu coração doía de uma dor indescritível, toda eu era cansaço. A dor e a tristeza, no entanto, continuavam a se multiplicar e eu não sabia mais o que fazer. 

Chegou o momento que pensei numa solução. Só havia uma forma: Sair distribuindo toda dor e tristeza em todos os lugares onde eu chegasse. Não importava onde, importava apenas que eu queria e precisava me livrar delas que tanto me pesavam e feriam. Então, saí em distribuição. 

Foi com grande espanto que percebi que era inútil. Sim eu distribuía dor e tristeza em todos os lugares a todas as pessoas, mas ao invés de diminuírem, elas aumentavam cada vez mais. Acrescidas ao remorso de legá-las a quem não as merecia, elas pesavam cada vez mais. Até o amor ficou esquecido. A amizade, forma tão sublime de amar, parecia não ter mais sentido.

Fiquei desolada... Chorei copiosamente de um choro profundo e doloroso que me comprimia o coração, apertava-me a alma e multiplicava, ao mesmo tempo que traduziam todo o meu desespero... Agora, não apenas eu sentia dor, mas também os outros com quem eu quis dividi-la. Alguns, mais nobres e sábios, até tentaram me consolar, transformando parte daquela semente maldita que eu lhes dera em conselhos que eu não ouvia. Minha tristeza e dor cada vez maiores me cegavam totalmente a ponto de me tornarem egoísta. Logo eu, egoísta! Achei que somente eu no mundo inteiro sentia dor...

Cheguei em casa, triste, abatida... em questão de dias havia envelhecido anos. Estava sem brilho, sem cor, sem disposição para viver... Recorri às lembranças saudosas de uma amizade duradoura e agradável e dela retirei a lição de que minha dor e tristeza continuariam a crescer enquanto eu tentasse me livrar delas, distribuindo aos outros ou simplesmente contemplando-as. Foi com muita dor de saudade que lembrei de alguém por quem comecei a escrever poesias... Era o mesmo alguém a quem eu atirava desesperadamente a minha dor e a minha tristeza...

Percebi que dor e tristeza não se deve cultivar e, se cultivei, não é distribuindo aos outros que me livrarei delas. Preciso re-cultivá-las, transformá-las em outros frutos como a sabedoria e o amor verdadeiro que a tudo resiste. 

Sei que vai levar um bom tempo e não importa onde eu vá, vou precisar levá-las comigo, pois agora ainda fazem parte de mim. Espero poder transformá-las em remédio para meus ferimentos e para os ferimentos que causei... Sei que os maiores foram em mim mesma. Talvez tenha perdido muito tempo antes de fazer isso, mas importa mesmo é que agora estou disposta a começar... A ação do tempo é inútil quando se nega a fazer o que ele está disposto a ajudar.