Fragmentos de mim: Sobre a maternidade

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Sobre a maternidade

Como muitas mulheres, sonhei ser mãe. A ideia de ter um filho sendo gerado dentro de mim e nascendo de mim germinou em meu coração e, especialmente em meus instintos por alguns anos. Depois, não sei há quanto tempo, abandonei a ideia e passei a fazer parte do grupo das que decidiram não querer ser mãe. 
Os julgamentos vieram e vêm todos os dias. "Como pode uma mulher não querer gerar um filho?" "Amargurada, criatura cheia de ódio. Somente isso justifica não querer ser mãe". Nunca foi isso. Entendam ou não, mas nunca foi isso. Descobri, não sei quando, que pessoas são sagradas demais para virem ao mundo de qualquer maneira e eu não quero ser responsável por tornar infelizes almas que, em algum momento e por algum tempo, dependeriam de mim. É preciso estrutura financeira, psicológica, espiritual para ser mãe. Não basta gerar!
Descobri, no entanto, e também não sei exatamente quando, que estaria fadada a ser mãe mesmo sem querer (sei que não no mesmo nível de intensidade que uma mãe,verdadeiramente) e pensando assim, percebo que a maternidade, bem como a honestidade, a loucura, ou qualquer outra manifestação humana, pode vir em níveis, e que gerar e parir é mais instinto e nem sempre vêm acompanhados da maternidade na dimensão espiritual de ser. Há muitas mães que abandonam seus filhos, que não abrem mão de certos privilégios em nome deles embora os tenham gerado e parido. 
Ser mãe é sofrer por não poder proteger, é ser escudo, é apanhar primeiro para amortecer a dor do outro, ou é sentir a alma estraçalhar por não poder fazer isso. Eu também não sei quando, mas tornei-me mãe em um nível que também desconheço e o percebo cada vez que sofro por não poder guardar de toda ordem de tristeza, dor e agressões aqueles a quem meu coração adotou. 
Como eu queria ser grande o suficiente para poder abraçar e proteger cada pessoa e cada ser que está, agora mas do que nunca, à mercê da violência, da ignorância, da morte, do abandono... Embora eu reconheça que também sou um desses seres que tanto necessitam desse amor e dessa proteção. Carregar esse sentimento é, ao mesmo tempo, reconhecer o quanto sou frágil e o quanto tantas coisas não dependem de mim... 
Lembro-me do Tempo, no filme Beleza oculta, ao consolar uma mulher desesperada para realizar o sonho de ser mãe: "Você será mãe de muitos filhos. Os filhos não precisam nascer de você para serem seus filhos. Eles só precisam passar pela sua vida".

10 comentários:

  1. Querida, muito obrigado pelo presente partilhado! Que bom que há pessoas como você próximas a mim! Beijos em seu coração.

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    1. Meu amor, obrigada pelo seu retorno. Deus nos proteja. Gratidão por sua amizade e carinho.
      ❤❤❤

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  2. Lindo texto minha amiga! Eu que te conheço, sei o quanto vc é mãe. Que Deus te abençoe!

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  3. Eu também quis tanto...
    Por que não fui mãe?
    Deus sabe todas as coisas.
    Conformada? Não sei...

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    1. Deus sabe de todas as coisas. Você não deixou de ser mãe por não ter gerado.

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  4. Essa consciência liberta dos julgamentos que vocês mulheres sofrem quanto a isso. Ótima observação e reflexão. Acho também Gorete, que nos ligamos a muito do que pensam de nós. Isso jamais mudará? A menos que queiram mesmo. Mas a liberdade de conviver com isso, esses julgamentos, e entender que somos mais que geradores de filhos "do nosso sangue" é apaziguador.

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  5. Eu tento me segurar a cada texto seu, mas às vezes simplesmente não dá! Obrigado por tudo. 🌷

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