Fragmentos de mim: Empatia

domingo, 30 de dezembro de 2018

Empatia

Sou de uma época e contexto em que não se falava tanto em empatia. Que bom que as coisas, mesmo lentamente, têm mudado. É fato que as atrocidades no mundo seriam em menor quantidade se a humanidade tentasse se colocar no lugar de quem sente o que ela é capaz de causar.
Bem, mas o que tenho percebido também é que, assim como outras coisas na vida, a empatia ocorre em níveis e há alguns níveis que até poucos dias, eu pouco tinha parado para pensar que existiam... E eles existem e exigem muito exercício de nossa parte.
É comum, ao tentar empático, colocarmo-nos no lugar de quem está em condição inferior à nossa, como o mais pobre, o enfermo, o abandonado, o traído, o mais triste ou o menos bonito. Dificilmente nos colocamos no lugar de quem estaria, em tese, em melhores condições que a nossa, e isso é arriscado. Por puro "senso de justiça", ou inveja mesmo, além de falta de autoaceitação, achamos malevolentes aqueles cuja alma não nos abraça como gostaríamos. É comum as pessoas serem cruéis com que é bonito ou simplesmente valorizá-los como "objeto de consumo".
Por outro lado, se viemos a este plano de existência numa condição (ou em várias) que nos torna alvo de algum tipo de preconceito, sentimo-nos injustiçados (e de fato, somos), porque vai existir a tendência de sermos rejeitados por uma determinada característica interpretada como defeito ou mesmo ojeriza. Interessante que, seja por beleza ou falta dela, por exemplo, o problema é o mesmo: temos dificuldade de acessar o que está além do que nossos olhos podem ver e tocar de imediato. Precisamos amadurecer nosso contato com a essência do outro.
Além de compreender a tristeza ou a frustração de quem não é tão bonito ou bem sucedido na vida, eu aprendi, dia desses, que eu preciso me colocar no lugar de quem me exclui de seus sentimentos, tem preconceito comigo, ou mantém distância de mim por não ter as vivências que eu tenho. Quando se está, por alguma razão, fora dos padrões, isso se torna parte da vivência diária. O que eu não fazia com frequência era perdoar quem fazia isso.
É fácil compreender as razões de quem não tem recursos quando não se tem recursos; é compreensível que o amor dos "feios" é tão valioso quanto o amor dos belos quando não se faz parte do grupo dos belos. Mas entendemos como maldade aquele que, de alguma maneira, nos discrimina. Quem garante que não faríamos igual se estivéssemos no lugar do outro? Sim, é espetacular pessoas lindas fisicamente mas que não discriminam; pessoas ricas e de sucesso que ajudam os que precisam. No entanto, isso é um nível evolutivo que muitos de nós não alcançamos ainda. Viver é preciso!
Talvez não haja algo tão doloroso quanto se sentir rejeitado por quem tanto amamos e gostaríamos de ter por perto, não há nada tão humilhante quanto se sentir inferiorizado e discriminado. Mas é urgente que saiamos dessa sintonia amarga de vítima. É preciso buscar a transcendência. No fim das contas, se amamos mesmo ou se, pelo menos, entendemos que cada um está no melhor que pode, perceberemos que o perdão (a si mesmo e ao outro) é sempre o melhor exercício de empatia e de amor.


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