Fragmentos de mim: Eu te amo! Mas até quando?

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Eu te amo! Mas até quando?

Certa vez, me disseram: "O amor não resiste à falta de admiração". O assunto eram crises e términos de  relacionamentos e a pessoa me dizia que deixou de amar quando percebeu que não admirava mais a outra. De certa maneira, eu concordei, afinal os relacionamentos - não necessariamente namoro ou relação conjugal - não abrem mão de admiração, confiança, carinho, e uma série de outras sensações e sentimentos cuja ausência tornaria insuportável manter a pessoa por perto. Não dá para ser amigo, cônjuge ou parceiro(a) de alguém em quem não se confia ou cuja presença é desagradável, por exemplo.
No entanto, é necessário reconhecer que todos temos limitações e defeitos e que da mesma maneira que não vamos admirar o outro em tudo, também não seremos tão admirados em tudo e mesmo assim, continuaremos queridos por alguns indivíduos. 
Costumo ser muito observadora e algumas coisas me chamam a atenção. Em relação a um casal, ao perceber, à certa distância, o comportamento do homem e pelo pouco que conheci da mulher, percebi que ela é não apenas o ponto de equilíbrio da relação em muitos sentidos, mas o ponto de sustentação. Não só por ser mulher, mas por ser uma pessoa equilibrada, altiva, responsável. 
Ao constatar isso, veio-me a recordação da frase a mim dita no passado: "O amor não resiste à falta de admiração". Concordei e me perguntei por que aquela mulher continuava com aquele homem... Sim, porque admiração não poderia ser. Não havia nele o que ser admirado. É um poço de problemas de naturezas diversas. Resistiria o amor a tantas fragilidades e limitações do outro? Esqueci minhas próprias vivências, ampliei a admiração por aquela mulher e continuei acreditando que perder a admiração pelo outro é, no mínimo, o primeiro passo para deixar de amar.
Era fácil eu manter essa opinião, pois eu não me via amando ou apaixonada e minha maneira de pensar o amor era diferente de hoje. Passei então a conjeturar sobre algumas pessoas que acredito e afirmo amar, e veio-me a reflexão, "até quando eu amaria?" É indubitavelmente fácil dizer que ama a quem se admira, porque isso é ganho próprio talvez até mais do que para o outro. Esvaziei, então, uma dessas pessoas dos títulos e de tudo que eu acredito acerca dela e pensei: Eu continuaria amando se essa pessoa deixasse de ser, diante dos meus olhos, o que eu acredito que ela seja? Daí, notei que o sentimento mudaria. Se não houvesse admiração, restaria carinho; Se houvesse limitações, eu não sei como, mas facilitaria a sua vida de alguma maneira; não houvesse beleza física,  continuaria havendo alma e haveria a chance de amar de maneira mais original; não houvesse mais oportunidades de palavras, haveria o olhar e não havendo o olhar, poderia haver o toque, o aconchego junto ao coração; Se não há a presença, fica uma ligação sincera, uma torcida honesta e fiel para tudo corra bem e a disposição de ir buscá-la onde quer que esteja, caso precise de mim.
É claro que a gente não precisa se transformar em mártir das próprias emoções nem das outras pessoas, por isso, às vezes, a maior prova de amor é não aceitar mais certas coisas, é se distanciar um pouco, é buscar com sinceridade ser respeitoso(a) com o direito que o outro tem de falhar. (Mas isso é assunto para outro texto) Porém, tudo isso ocorre porque se é amor não precisa de admiração, porque quem ama de verdade se doa e se transforma nesse ato de doação. Porque quando eu digo que eu amo alguém, eu não me refiro à pessoa, mas a mim mesma, ao que eu sou capaz de sentir e fazer em nome desse sentir. Porque amar não diz respeito ao que os outros são para nós, mas ao que nós somos capazes de ser para o outro.  Porque ainda somos imperfeitos para amar com pureza...

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