Fragmentos de mim: Amar e fazer novas todas as coisas

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Amar e fazer novas todas as coisas

A vida nos permite, todos os dias, recomeçar, mas, muitas vezes, por mera teimosia, optamos pela infelicidade. Falo aqui da possibilidade de recomeços, de tornar, por amor a si mesmo e aos outros, novas todas as coisas que nos cercam e nos ajudam a ser quem somos.
Ciclos se fecham para que novos se iniciem e esse processo é inevitável, especialmente se exercitamos o autoamor. Quando aprendemos a nos amar, há muito do que consideramos tolerância que passamos a ver como abuso. Livramo-nos de relações dolorosas e somos levados a fazer uma verdadeira faxina em nossa vida.
Os outros não saberão nossos limites se não deixarmos isso claro. Se alguém nos despreza no que temos de mais precioso, não deve permanecer conosco. Precisamos aceitar que certas rupturas serão inevitáveis e que as dores e decepções serão maiores cada vez que nos recusarmos a deixar ir embora de nossa vida quem não deve permanecer nela.
"É preciso um profundo exercício de desaprender" disse Fernando Pessoa na voz de Alberto Caeiro. Precisamos nos desnudar de muita coisa e concentrar nossa atenção em nós, naquilo que somos, no que queremos, como também no reconhecimento daquilo que, por medida mesmo de segurança e autopreservação, não podemos mais aceitar. 
Nesse processo, vale ouvir a intuição, perceber os sinais e não fazer vista grossa para aquilo que nos machuca. É melhor que machuque no processo de fazer-se livre do que permanecer com algo que massacra e humilha por mero medo da separação.
Nesse processo de descoberta, podemos levar sustos imensos. Nada dói tanto quanto perceber que o melhor que doamos de nós a alguém é visto como sufocante, sujo e desprezível. Nada fere tanto quanto ser preterido(a), mas também ensina muito. Pode parecer injusto, mas o mais limpo e puro que parte de nós pode provocar asco em quem amamos. Palavras de carinho podem constranger quem sente desprezo por nosso carinho, ou, no mínimo, podem ser vistas como desnecessárias e incômodas. 
Podemos juntar nossas pérolas mais preciosas e entregá-las a alguém que vai simplesmente jogá-las no lixo. É preciso, então, ouvir a intuição, poupar nossas pérolas. E não, o problema não são as pérolas, nem nós que as doamos, tampouco quem não as quer receber, mas é um processo normal da vida: é natural apenas. 
Desapegar é a única coisa que resta. Dá prova de amor muito maior quem admira o voo do pássaro do que quem o prende na gaiola. Não há por que se vitimizar, apenas deixar ir, afinal só se doa aquilo que se tem e ninguém é obrigado a receber coisa alguma. Nem nós. A vergonha e o constrangimento do momento vão passar.
É preciso aprender a dizer não. Amar o outro não significa aceitar tudo que vem dele, muito menos seu desprezo. Guardemos nossas pérolas, perdoemos, mas deixemos ir, recusemos o que nos fere. Digamos "Basta!"


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