Fragmentos de mim: A poesia de ser

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

A poesia de ser

A dicotomia poesia-poema nunca me pareceu suficientemente explicada nas academias. Sempre faltou algo no tocante à poesia e, por extensão, ao poeta. Descobri, numa tarde, enquanto ministrava aula de literatura e falava sobre Drummond, que os poetas sentem o mundo com o coração mais dolorido. Os poetas sofrem mais. Sofrem porque percebem o imperceptível aos olhos normais. Talvez, por isso mesmo, os poetas sejam vistos como loucos ou, pelo menos, não muito "normais".
Ser poeta é sentir. Só isso basta. 
Sentir o mundo.
Sentir as pessoas.
Sentir a si mesmo.
Sentir...
O poeta não vê números na guerra, vê vidas que se perdem, sente a dor, chora essa dor. O poeta ama... Fazer poesia é amar o outro e quando ama de paixão, transforma o ser amado em paisagem, possível de ser admirada por uma vida inteira sem cansar da imagem e tudo isso, mesmo vislumbrando um precipício logo adiante. O sentir é o que importa. Quem descobre a poesia de ser descobre que o Amor é a única essência, é a mais bela imagem, que pessoas podem ser paisagens vivas a se movimentar e seguir.
Fazer poesia é ser ridículo, como as ridículas cartas de amor referenciadas por Pessoa. Por isso, o poeta não vive, apenas, ele/ela sente o mundo, sente as pessoas do mundo. 
Esse sentir silencioso, pouco compreendido, desperdiçado dispensa explicações. Apenas É.
Ah... Bem-aventurados os poetas e poetisas do mundo, que vivem a desventura gratuita de não serem compreendidos, de não serem amados, de não serem admirados e, ainda assim, continuarem sendo quem são.
Bem-aventurados os que veem o Amor e a Poesia em tudo: na flor que desabrocha;
Na criança que nasce;
Num animalzinho de rua;
No envelhecer de cada dia;
Numa palavra de gratidão ou num pedido de ajuda;
Na alma que se liberta e vai morar nas estrelas...
Bem-aventurados os que sabem ser a poesia lida, os que se tornam poesia mesmo sem saber... Bem-aventurados os que inspiram a poesia e se tornam paisagem aos olhos dos corações que poetizam...
Bem-aventurados os que livremente se permitem "prender", por puro querer, por puro sentir...

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