Fragmentos de mim: Sementes e frutos

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Sementes e frutos

Certo dia, recebi da vida algumas sementes. Disseram-me que eram mágicas, pois os frutos que delas brotariam iria depender da maneira como eu as cultivasse. Recebi também um simplório manual de instruções, no qual poderia ver algumas formas de não tornar as sementes capazes de gerar frutos que eu não desejasse.
Li apressadamente o manual e pus-me a cultivar as sementes. 

O tempo passou e alguns frutos logo brotaram. Reguei muito as sementes. Cuidei delas pra que nada de errado pudesse ocorrer. Entretanto, em minha pressa na leitura do manual e graças a alguns vícios que adquiri na vida, nem tudo saiu como eu esperava.

Algumas sementes, justo aquelas a quem dispensei uma atenção redobrada começaram a dar mais trabalho que de costume. Comecei a me preocupar com elas. Achei que com atenção em demasia eu as fazia bem. Passei a regá-las não com água, mas com lágrimas. O problema, no entanto, apenas crescia. Os frutos destas sementes foram devastadores: Plantei-as no intuito de colher amor, ao invés disso, colhi tristeza e dor.

Como era difícil lidar com elas. Cresciam em demasia, pesavam muito e tomavam todos os espaços existentes em minha vida. Tanto que acabei desprezando - por falta de tempo e espaço em minha vida - as sementes do respeito, da dignidade - Nossa, essa eu joguei no lixo, coitada - da amizade, do carinho. Todas essas ficaram de lado, mas por serem fortes e nobres continuaram a se desenvolver apesar de meu injusto abandono.

Carregar a dor e a tristeza que havia planejado pra serem amor e felicidade me feria. Eu sangrava por meio de minha alma, todo o meu ser era ferida. Minhas mãos tremiam, meu coração doía de uma dor indescritível, toda eu era cansaço. A dor e a tristeza, no entanto, continuavam a se multiplicar e eu não sabia mais o que fazer. 

Chegou o momento que pensei numa solução. Só havia uma forma: Sair distribuindo toda dor e tristeza em todos os lugares onde eu chegasse. Não importava onde, importava apenas que eu queria e precisava me livrar delas que tanto me pesavam e feriam. Então, saí em distribuição. 

Foi com grande espanto que percebi que era inútil. Sim eu distribuía dor e tristeza em todos os lugares a todas as pessoas, mas ao invés de diminuírem, elas aumentavam cada vez mais. Acrescidas ao remorso de legá-las a quem não as merecia, elas pesavam cada vez mais. Até o amor ficou esquecido. A amizade, forma tão sublime de amar, parecia não ter mais sentido.

Fiquei desolada... Chorei copiosamente de um choro profundo e doloroso que me comprimia o coração, apertava-me a alma e multiplicava, ao mesmo tempo que traduziam todo o meu desespero... Agora, não apenas eu sentia dor, mas também os outros com quem eu quis dividi-la. Alguns, mais nobres e sábios, até tentaram me consolar, transformando parte daquela semente maldita que eu lhes dera em conselhos que eu não ouvia. Minha tristeza e dor cada vez maiores me cegavam totalmente a ponto de me tornarem egoísta. Logo eu, egoísta! Achei que somente eu no mundo inteiro sentia dor...

Cheguei em casa, triste, abatida... em questão de dias havia envelhecido anos. Estava sem brilho, sem cor, sem disposição para viver... Recorri às lembranças saudosas de uma amizade duradoura e agradável e dela retirei a lição de que minha dor e tristeza continuariam a crescer enquanto eu tentasse me livrar delas, distribuindo aos outros ou simplesmente contemplando-as. Foi com muita dor de saudade que lembrei de alguém por quem comecei a escrever poesias... Era o mesmo alguém a quem eu atirava desesperadamente a minha dor e a minha tristeza...

Percebi que dor e tristeza não se deve cultivar e, se cultivei, não é distribuindo aos outros que me livrarei delas. Preciso re-cultivá-las, transformá-las em outros frutos como a sabedoria e o amor verdadeiro que a tudo resiste. 

Sei que vai levar um bom tempo e não importa onde eu vá, vou precisar levá-las comigo, pois agora ainda fazem parte de mim. Espero poder transformá-las em remédio para meus ferimentos e para os ferimentos que causei... Sei que os maiores foram em mim mesma. Talvez tenha perdido muito tempo antes de fazer isso, mas importa mesmo é que agora estou disposta a começar... A ação do tempo é inútil quando se nega a fazer o que ele está disposto a ajudar.





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